Informações
Tipo de Entidade
Coletivo Cultural
Data de Criação
20/11/2012
E-mail da sede
comunicacaomuquifu@gmal.com
Nome do responsável pelo coletivo
Mauro Luiz da Silva
Cargo do responsável
Curador do Muquifu
Breve história sobre o Ponto de Memória
As coleções e exposições no MUQUIFU têm outra relação com a memória dos povos escravizados, bem como com os descendentes de tais povos. Queremos afetar essas pessoas numa perspectiva oposta à da violência: numa perspectiva de afetividade. Afinal, a palavra quilombo não está por acaso no nome desse museu. Do período colonial aos dias atuais, quilombo é sinônimo de espaço de resistência à escravidão, de luta pela libertação da opressão. É o que destaca Helena Theodoro, que lembra que, na concepção africana, essa palavra remete ao território “como espaço a ser cuidado, como lugar para se construir e preservar, além de ser o lugar que aglutina a todos que nele residem, dentro da filosofia ubuntu: minha existência está conectada à do outro”. Alicerçados no afeto, nos dedicamos a um processo de escuta, que tem gerado uma forma única de colecionar e expor, contribuindo com a construção das narrativas soterradas nos museus tradicionais. Nosso modo de enxergar e o outro tem sido aprendido em diálogos como o que tivemos certa vez com Dona Jovem, à época coordenadora do grupo Comunidade Maria Estrela da Manhã. Conversávamos à porta do museu e ela, olhando em direção à sua casa, comentou: “Quando eu voltar pra minha casa, quero passar na casa da minha vizinha. Ela deve estar com algum problema”. Admirados, perguntamos: “Como assim, Dona Jovem? Por que a senhora acha que a sua vizinha está com algum problema?”. Ela, do alto de sua sabedoria, respondeu: “É porque já faz alguns dias que ela não coloca roupa no varal”. Diante do inexorável, só nos restou o silêncio fecundo. Apresentava-se ali, naquele momento, uma forma de contemplar o mundo através de novos códigos e possibilidades de interpretação da realidade. Alguém já viveu essa experiência de profunda empatia, que viabiliza vínculos afetivos que superam laços de consanguinidade, ultrapassa limites territoriais e sociais, com essa capacidade de olhar o mundo através do lugar do outro? Quem de nós é capaz de “ler o mundo da outra, do outro” através das roupas penduradas no varal? O MUQUIFU, este museu em construção, quer ser o lugar da escuta, da mediação e da acolhida afetuosa. O projeto expográfico do MUQUIFU vai na contramão da representação museal e imagética baseada no colonialismo português. Por isso, não expõe objetos de tortura ou suplícios. As imagens dos homens negros e das mulheres negras, e de outras formas de existir, estão representadas na diversidade de práticas culturais vivas, na herança de conhecimentos tradicionais e populares, na luta pelos direitos culturais; sobretudo, na reivindicação do direito à cidade. O MUQUIFU existe para que os conhecimentos, a cultura e a arte da população preta e periférica seja reconhecida como parte da memória e da vida da cidade. O direito humano mais elementar é esse: o de existir e ser reconhecido como parte da humanidade. Algo tão elementar, contudo, não é garantido à população negra. Por meio da cultura e do patrimônio vivo, enfrentamos essa barbárie. Foi por isso que o MUQUIFU organizou o Projeto NegriCidade, unindo as pesquisas sobre os Territórios Negros Soterrados e a criação de um Centro de Referência e Documentação. Na empreitada, iniciada em 2018, nossa busca é por mostrar que a cidade de Belo Horizonte não foi erguida numa região desabitada: ela transformou um povoado preto em destroços e ergueu a cidade sobre escombros das casas, espaços de sociabilidade e de fé dos povos que viviam na região. Mais do que espaços, corpos também foram soterrados: cemitérios de pessoas pretas, situados ao lado das capelas demolidas, foram simplesmente cobertos por ruas, avenidas e edificações. Corpos que ali jaziam foram tratados como dejetos. O que antes eram lápides passou a ser vala comum. São territórios, pessoas e memórias soterradas. Pedra, terra, restos humanos, fragmentos do que um dia foram moradas e espaços do viver cotidiano. Tudo se misturou ao indistinto pó sob o chão da metrópole. O trabalho do NegriCidade é ir em busca desses territórios soterrados. Das histórias de cada casa, de cada espaço da fé religiosa, de cada pessoa que ali viveu, de cada cemitério. Dos objetos, pedaços de edificações, corpos que estão sob o asfalto de BH. O projeto identifica patrimônios que foram destruídos e vai em busca do poder público, para que sejam reconhecidos. Foi o que aconteceu com o Largo do Rosário, que existiu onde hoje é o hipercentro de Belo Horizonte. Ali, ficava a Capela do Rosário dos Homens Pretos, um pátio de mesmo nome, além de um cemitério com 60 sepulturas. As edificações, ligadas à Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, foram demolidas e o cemitério simplesmente soterrado. Entre 2018 e 2019, o NegriCidade realizou três ocupações no local, que juntaram lideranças culturais e religiosas dos mais diversos matizes para denunciar essa brutal violação do direito à memória e exigir que o Largo fosse reconhecido como Patrimônio Cultural de Belo Horizonte. Em diversos pontos da cidade, o mesmo se repete. Patrimônios dos povos pretos foram simplesmente soterrados. O mesmo se dá em muitas e muitas cidades espalhadas pelo país. O NegriCidade segue buscando, em BH e redondezas, identificar os territórios e as expressões culturais soterradas, e reivindicar o reconhecimento público delas. O NegriCidade se faz, assim, uma mobilização pelo Afro-patrimônio, que denuncia e exige o fim de lógicas racistas definindo quem merece contar na história e na vida da cidade. É um ato de resiliência, uma ação de resgate que exige uma tomada de posição diante do questionamento: estamos prontos para escutar o grito dos quilombos? Não existem respostas prontas para questionamentos dessa natureza. Existe sim um constante perguntar-se a respeito do vivido no passado, que tem repercussões no presente e pode gerar graves consequências para o futuro.
Público-alvo das ações promovidas
O Muquifu é um museu de Território e suas ações são voltadas prioritariamente para os moradores das vilas, favelas e quilombos urbanos de Belo Horizonte e Região Metropolitana que, em sua maioria, são pessoas negras e empobrecidas. Atendemos grupos espontâneos e agendados: escolares do ensino fundamental à pós-graduação. Acessibilidade em LIBRAS, Frances, Italiano, Inglês e Espanhol.
Redes sociais
Breve descrição do Acervo
Museu de território e comunitário. Instrumento de resistência diante do risco iminente de expulsão dos favelados dos centros urbanos. Ação contínua de reconhecimento e preservação do patrimônio, das histórias, das memórias e dos bens culturais dos moradores dos Quilombos Urbanos e Favelas de Belo Horizonte. Fortemente ancorado nessas propostas, o MUQUIFU tem resistido ao longo de mais de uma década de vida. A importância de seu acervo para a memória da cultura popular de Belo Horizonte contrasta com a falta de recursos para a manutenção da estrutura e a garantia das condições de visitação. Mas, apesar de tudo e contra tudo, ele segue sendo um espaço aberto, acolhedor e que conta as histórias que não costumam ser contadas. O acervo do MUQUIFU reúne objetos, fotografias, imagens de festas, danças, celebrações, rituais e histórias que representam a tradição e a vida cultural dos moradores das diversas favelas e quilombos urbanos do Estado de Minas Gerais. Esse museu singular, como não poderia deixar de ser, tem um modo particular de colecionar e expor. Ele inaugura uma proposta do que o coletivo responsável vem chamando de “Museologia Vegana”. Não são acolhidos, no acervo e nas exposições, objetos de tortura e suplício. Entendemos o Veganismo como um modo de viver que exclui todas as formas de exploração e crueldade contra animais para a alimentação, vestuário e qualquer outro propósito, dentre os quais incluímos os modos do fazer museal.
O Ponto já realizou o Inventário Participativo?
Não
O Ponto possui Acervo?
Sim
Acervo
Catálogos, livros e outras encadernações impressas | Documentos | Documentos escritos | Documentos Imagéticos (Fotografias, mapas, etc..) | Objetos
O Acervo já foi inventariado?
Sim
O ponto possui acervos digitais?
Sim
Relação com a comunidade de referência
O MUQUIFU nasceu como fruto do desejo da comunidade local, o Aglomerado Santa Lúcia, também conhecido como Morro do Papagaio, na região Centro Sul da capital mineira. A história do MUQUIFU teve início com uma "Caminhada Pela PAZ", que aconteceu no dia 12 de outubro de 2000, promovida pela Paróquia Nossa Senhora do Morro, que está localizada no mesmo território. Após a Caminhada Pela PAZ partimos para outro projeto, o Quilombo do Papagaio (2001) - Três Semanas de PAZ e Cidadania no Aglomerado Santa Lúcia. Da Caminhada Pela PAZ e do Quilombo do Papagaio surgiu o Memorial do Quilombo (2007). Do Memorial do Quilombo compreendemos que deveríamos nos tornar um Museu, que foi inaugurado no dia 20 de novembro de 2012. Enfim, a Comunidade Local é a protagonista de todos estes processos, dos quais somos herdeiros e, hoje, curadores.
O ponto possui sede própria?
Não
Já foi contemplado em algum edital do IBRAM?
Não
Contemplado em outros editais públicos ou privados?
Sim
Contemplado em quais outros editais?
Fundo Municipal de Cultura da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte Lei Municipal de Incentivo à Cultura (Captação) Prêmio Adir Blanc Emenda Parlamentar da Deputada Federal Áurea Carolina - PSOL
Os integrantes participaram de ação do IBRAM?
Não
Participaram de capacitação de outra instituição?
Não
O ponto promove atividades regulares?
Sim
Quais atividades?
Exposições Visitas Mediadas Rodas de Conversa Sarau no Muquifu Semana de Museus - Ibram Primavera de Museus - Ibram Circuito de Museus da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte Seminários Temáticos
A entidade promove ações de Capacitação?
Sim
Quais ações de Capacitação?
Cursos de Formação em Patrimônio Mesas e Rodas de Conversa voltadas para as questões do Afro-Patrimônio Fórum Permanente "Territórios Soterrados" Participa do Comitê de Salvaguarda do Largo do Rosário de Belo Horizonte Circuito Afro-Turístico no Largo do Rosário
O ponto promove eventos abertos ao público?
Sim
Quais eventos?
Seminários, Fóruns, Palestras, Circuitos Afro-Turísticos pelos Territórios Negros de Belo Horizonte.
O ponto faz parte de alguma Rede?
Sim
Qual Rede?
Territórios Soterrados: Rede de Coletivos e Instituições que representam comunidades e territórios soterrados.
O ponto possui parcerias com poder público?
Sim
Quais parcerias com poder público?
Participa do Circuito de Museus, promovido pela Secretaria de Educação do Município de Belo Horizonte.
O ponto possui parcerias com instituições privadas?
Não
O Ponto tem participação ativa em conselhos?
Não