Mamulengo Tomé

Fundado pelo saudoso Mestre Custódio, no ano de 1942 no Engenho Tomé, de Glória do Goitá, que deu nome à brincadeira, sendo assim um dos mais antigos grupos de mamulengo ainda em atuação. Nessa época, o mestre era apenas um garoto de doze anos de idade, que junto a outros meninos, todos cortadores de cana e moradores do referido engenho, inventaram o brinquedo com a finalidade de aferir um dinheirinho extra com as apresentações, o que era relativamente ‘comum’, na época.... As inclinações artísticas do jovem Custódio foram fundamentais ao novo mamulengo, além de esculpir e arranjar as figuras, construiu e tocou instrumentos, foi toadeiro das apresentações e sagrou-se mestre. Muitos desses bonecos, até hoje, brincam no Tomé. Custódio levou em frente o folguedo, até sua triste partida, no ano de 1999. Nessa época ele mantinha, no bairro de Rio doce, Olinda, sua Sede Cultural, que agregava diversas brincadeiras sob a sua bengala: Os Maracatus Dois de Ouro e o Chuva de Prata, O Boi Brasileiro do Rio Doce, O Samba de Coco do Mangue, a Ciranda Cobiçada (https://www.youtube.com/watch?v=ra7X0j6ZMO0 onde se fez célebre enquanto compositor) e O Mamulengo Tomé. Custódio desenvolveu importante trabalho de Educação não formal de práticas artísticas populares, sendo referência para diversos grupos, como Comadre Florzinha e Boizinho Alinhado, grupo no qual escolheu seu herdeiro para dar continuidade ao Mamulengo Tomé, pouco antes de ‘se encantar’, foi quando deixou sua mala aos cuidados de Wagner Porto, em 1997, então seu aprendiz mais dedicado, por ser também seu vizinho e profundo admirador, que desde então mestra o brinquedo. (Tempo de atuação do Grupo: desde 1942! Com a formação atual a partir de 1997). O herdeiro do Mamulengo Tomé aprofunda-se então na ciência do mamulengo e consagra-se enquanto um dos maiores bonequeiros do estado, alçando diversos prêmios nos Salões de Arte Popular de Pernambuco e sendo figura integrante da alameda dos Mestres, coletiva de arte popular incentivada pelo governo do Estado de Pernambuco durante a FENEARTE desde 2004. A prática inventiva, tradicional e inovadora propostas em suas criações fazem com que o Museu do Homem do Nordeste adquiram importante acervo de suas produções. Constituindo uma família dedicada a prática do mamulengo junto com a musicista e pesquisadora botânica Danielle Jansen transferem o mamulengo para o Agreste Pernambucano e seguem preservando e redimensionando a tradição dos presepeiros, junto a seus filhos, que, hoje, além de apoiarem a manutenção da brincadeira a partir das práticas musicais desde a mais tenra idade, aprimoram também as linguagens transversais que asseguram a preservação do patrimônio mamulengo ao fazerem uso de técnicas audiovisuais voltadas a manutenção das tradições do mamulengo(https://www.instagram.com/rita.da.rede.rasgada/) bem como praticando o tradicional ato teatral. Mamulengo Tomé vem ainda acumulando prêmios e reconhecimento por sua atuação voltada para a salvaguarda da brincadeira do mamulengo, e das literaturas orais, instituindo, mediante premiação, um Ponto de Leitura desde 2009, sendo premiado novamente pela prática em 2013 (https://www.facebook.com/casadopoetafranca/ ) com o Prêmio Machado de Assis para bibliotecas populares. O Tomé fora também agraciado enquanto prática de educação não formal exemplar em nível nacional pelo Rumos Educação Cultura e Arte, do Instituto Itaú Cultural, que reconhece a ação desse Mamulengo enquanto uma das dez mais bem avaliadas do país , ao fazer uso das tradições populares na busca de uma educação genuinamente brasileira, também nessa época o mamulengo Tomé ganha o Prêmio Capoeira Viva, ao unir práticas de audiovisual visando o acautelamento do patrimônio imaterial brasileiro (Prêmio Capoeira Viva). Foi graças as ações propositivas do Mamulengo Tomé que fora instituído dentro da programação do Festival de Inverno de Garanhuns, o Espaço Mamulengo, plataforma que consagra-se junto à população do município enquanto um dos polos mais queridos do festival, ao trazer diversos mamulengueiros do estado para se apresentarem nesses tantos anos de existência. Contribuindo com sua atuação para a difusão da Cultura Popular através da articulação de parcerias com instituições (FUNDARPE, IPHAN, Universidades, Associações) e as comunidades portadoras da tradição. Dando visibilidade e fortalecendo a causa do mamulengo, projetando seus mestres, ao capacitar suas famílias à proposição de projetos (como o Mestre João Galego, que lançou-se a Patrimônio Vivo e Mestre Calú, que emplacou projetos FUNCULTURA) abrindo ainda mais espaços para discussões aprofundadas sobre o tema. Foi o Mamulengo Tomé que resgatou o tradicional e peculiar mamulengo do Agreste, salvaguardados na memória dos mestres João do Mamulengo da cidade de São João (hoje saudoso!) e do Mestre Antônio do Pife, de Lajedo, dando novos ânimos a carreira desses grupos tão importantes, por serem os últimos representantes de uma escola de mamulengo singular. Também foi o Mamulengo Tomé que conseguiu juntar mais de cinquenta bonequeiros de seis estados do Nordeste no primeiro Seminário Patrimônio por Eles Mesmos, incentivado pelo FUNCULTURA, em 2015, (https://www.facebook.com/mestresdomamulengo/ ) produzindo A Carta de Olinda, documento no qual os próprios mestres apontam o caminho para a salvaguarda e Preservação do bem para as próximas gerações. Assim o Mamulengo Tomé vem prestando enorme contribuição para a preservação da memória da Cultura Popular e para a manutenção das atividades dos grupos e comunidades vinculados às expressões culturais de diversos grupos de mamulengo de todo o estado, tendo sua fundamental importância na preservação do bem atestada pelos demais mestres.