Coletivo Catarse/Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre

O Coletivo Catarse é uma cooperativa de comunicação e produção cultural, fundada no ramo do cooperativismo de trabalho em 2004, sendo a primeira com suas características constituída apenas com 7 pessoas, já que, na época, a legislação (de 1971) exigia ao menos 20 integrantes. Contrariando os resquícios de um período anterior em que se pensavam cooperativas exclusivamente de crédito e de bases rurais, manteve-se assim e serviu de base para uma nova legislação que surgiu em 2012, regulamentando, então, o cooperativismo de trabalho para a atualidade - permitindo, portanto, entre tantos outros aspectos, a fundação de cooperativa com apenas 7 pessoas. E isso já é um aspecto de registro histórico de uma atuação militante no cooperativismo que está no cerne do Coletivo. Em relação a sua atuação profissional, seguindo sempre as expertises de seus cooperados, ao longo de quase 20 anos, desenvolveu uma série de trabalhos de cunho históricos, de registro e etnográficos. Foram projetos envolvendo comunidades indígenas e quilombolas, da luta do campo, dos direitos humanos, do patrimônio imaterial, da “história não contada”, entre tantos outros - várias frentes que envolviam parcerias diretas com as comunidades ou instituições de sociedade civil envolvidas ou editais e/ou chamadas públicas e conveniamentos com o poder público, como o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por exemplo. Há ainda, mais recentemente, uma grande aproximação com museus, como o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa e o Museu Antropológico do Rio Grande do Sul, que estão realizando com o Coletivo Catarse uma série de atividades, que vão desde a cedência de espaço para exposição de fotografias até a produção de podcasts com conteúdo museológico. Importante também destacar o envolvimento do Coletivo Catarse com a Política Cultura Viva. No ano de 2008, conveniou o projeto do Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre na rede de cultura e saúde do Grupo Hospitalar Conceição, numa articulação entre Ministério da Saúde e Ministério da Cultura. Em 2009 começou a trabalhar a interface entre cultura e saúde na Vila Jardim, um bairro com altos índices de vulnerabilidade social da cidade de Porto Alegre. Ali, foram desenvolvidas atividades de registros da memória local, de educação e saúde e formação. O Ponto de Cultura promoveu oficinas de fotografia na lata, colagem, de Tambor de Sopapo, cinema no Ponto, acolhimento de operativos de posto de saúde e do GHC, produção audiovisual com grupo de adolescente VJ Online, participação em assembleia comunitária do bairro, peças teatrais, circo, apresentações musicais para as ruas da comunidade, entre outros. Já em 2011, o Ventre Livre acolheu o artista plástico e vizinho Paulo Montiel como artista residente. Homem negro e pesquisador das culturas de tradição afrodescendentes, desenvolveu atividades junto ao Ponto até 2019, quando faleceu, deixando como legado um precioso acervo artístico, pinturas em quadros e outros meios, das divindades ligadas ao panteão Yorubá, cultuadas pelas tradições do Batuque, Quimbanda, Umbanda e Candomblé do Rio Grande do Sul - obras estas que se encontram hoje sob concessão de resguardo do Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre/Coletivo Catarse. Ao término do primeiro conveniamento, o Ponto de Cultura se deslocou do bairro Vila Jardim para atuar de forma descentralizada, mantendo-se administrativamente junto à sede da cooperativa no bairro Petrópolis até fins de 2018, quando, então, deu-se a mudança para o Centro Histórico de Porto Alegre, em um espaço maior, onde foi possível expor os trabalhos de Paulo Montiel e que conta com salão e espaço de eventos para as oficinas, projeções de filmes, entre outros. Neste meio tempo, o projeto ainda teve novo conveniamento, agora com a Secretaria de Estado da Cultura, promovendo diversas oficinas e festivais dos filmes produzidos, inclusive durante a pandemia - produções estas voltadas a profissionais agentes de saúde, assistentes sociais, agentes culturais de outros pontos de cultura, etc.. Neste ínterim, além dos convênios diretos de projeto de Ponto de Cultura, o Ventre Livre foi contemplado em diversos editais de prêmios (Pontinhos de Cultura, por exemplo) e de estrutura (Lei Aldir Blanc), mantendo seu espaço compartilhado e disponível para as mais diversas atividades culturais, que se mantiveram ininterruptas desde a implementação do projeto do Ponto de Cultura. De tal forma, hoje, entende-se que Coletivo Catarse e Ponto de Cultura e Saúde Ventre Livre sejam a mesma coisa, não mais uma instituição com um projeto, mas uma única iniciativa com estrutura própria, de produção cultural, de patrimônio histórico e de geração de trabalho e renda. Ao longo, portanto, desses quase 20 anos, segue em atuação constante com o binômio comunicação e produção cultural, registrando, difundindo e amplificando saberes e fazeres de comunidades tradicionais, grupos periféricos e movimentos do campo e da cidade. Temos registros de patrimônios imateriais como a fabricação artesanal de alimentos - erva-mate, mandioca, dendê, polpa de “açaí” juçara, pesca cooperativa, pecuária familiar -, manifestações culturais - tambor de sopapo, maçambique, candombe, ijexá, capoeira, Umbanda, Batuque, Quimbanda, diversas manifestações das culturas Kaingang e Mbyá Guarani, incluindo o preparo de alimentos e medicinas tradicionais, cantos, danças, artesanatos e manifestações das espiritualidades de cada cultura - e expressões artísticas como teatro de bonecos, teatro de sombras, canto coral, fotografia, música, entre tantas outras. Isso tudo gerou um grande conteúdo que se procura disponibilizar ao público de maneira gratuita tanto por meio de produtos de comunicação acabados (documentários, exposições, livros, revistas, podcasts, lives, conteúdos multimídia em sites e redes sociais, etc.), em oficinas, eventos culturais, vivências, como disponibilizando os arquivos para novos trabalhos de parceiros e/ou pesquisadores, que ciclicamente nos procuram para acessar nosso acervo - o Coletivo Catarse já foi tema de diversas dissertações de mestrado de trabalhos de administração, economia solidária, produção cultural, comunicação; já cedeu imagens e outros elementos para outros projetos historiográficos, de resgate e construção de linhas temporais históricas (a diáspora do povo negro e sua contribuição no Rio Grande do Sul, contada através de um avatar que é o Tambor de Sopapo, por exemplo); e, hoje, está em um projeto de construção de uma metodologia museológica para organização e disponibilização do seu acervo junto a uma instituição internacional (Witness) e o Museu da Comunicação Hipólito José da Costa.