Memorial Anunciação

A atitude de preservar o patrimônio material e imaterial das Filhas do Amor Divino – Província Nossa Senhora da Anunciação esteve ligada diretamente às mãos de cada Irmã que, em diferentes épocas e espaços da missão, guardou peças e objetos, que pudessem fazer parte da memória e da cultura. A coleção de objetos do Memorial Anunciação - MA, conforme exposto nos depoimentos orais e registros escritos, iniciou na década de 1980, a partir da atitude emblemática de Irmã Norma Holtz Silva, reconhecida como primeira incentivadora do projeto de organização do museu. Naquele contexto se objetivou a guarda e preservação de peças que poderiam vir a representar a história da Congregação, em particular, da Província Nossa Senhora da Anunciação, com Sede em Santa Maria, RS. Ao longo do tempo, o trabalho executado pela religiosa acima mencionada resultou na formação de uma coleção representativa e simbólica formada por peças coletadas, guardadas e preservadas com o propósito divulgar essa memória histórica às futuras gerações. Irmã Norma, educadora por formação, já almejava e acalentava o sonho da construção de um espaço que pudesse fazer reavivar a lembrança da missão das Religiosas da Congregação em diferentes cantos do Brasil. O Museu, como era intitulado nos primórdios de sua organização, esteve sob a supervisão de Irmã Norma, que cuidava das coleções. Na oportunidade, realizou ações de sistematização e pesquisa do material, por meio de práticas de acondicionamento em caixas e uma breve identificação das peças. Efetuou o processo de arrolamento, contabilizando o número de objetos que compunha o acervo. Deste modo, o procedimento adequado, para o momento, estava alicerçado em guardar as peças que ingressassem no acervo e, ainda, realizar pequenos registros documentais em fichas e a breve descrição em etiquetas, que sinalizariam a identificação das coleções. No entanto, essas práticas eram significativas e fundamentais para a conservação do material. Em razão da comemoração do ano centenário da presença da Congregação no Brasil, retomou-se a idealização de um espaço de memória alinhado com legislação museológica brasileira, conforme preveem as diretrizes do Instituto Brasileiro de Museus-IBRAM. Desta intenção, resultou na contratação de uma profissional da área, que elaborou e executou o projeto de sistematização e organização do acervo, buscando atender as demandas e anseios da Instituição. O propósito estava alicerçado na criação legal do memorial, segundo as políticas de preservação e difusão do patrimônio cultural. Como trajetória, o trabalho seguiu um planejamento que cumpriu etapas, primeiramente, foi a realização da visita técnica, no munícipio de Cerro Largo, RS, berço que acolheu as Filhas do Amor Divino, nas primeiras décadas do século XX. No local, havia uma expressiva quantidade de peças guardadas, bem como no Ex-Instituto Nossa Senhora da Anunciação, que preserva um acervo histórico. Tanto o Convento quanto o Instituto salvaguardavam uma vasta coleção museológica, que compreendia aproximadamente 3000 peças de tipologia tridimensional e 12000 objetos iconográficos, entre estes, destacam-se: fotos, slides, positivos e filmes negativos. Na etapa inicial, realizou-se o tratamento técnico das coleções presentes no acervo, separando as peças por tipologias de materiais e, na sequência, o treinamento da equipe de trabalho, que contou com a bravura e dinamismo das religiosas Irmã M. Clotilde Traesel, Irmã Maria Barth e Irmã M. Rita Ames. O tratamento das peças foi executado a partir dos procedimentos de higienização, acondicionamento e guarda em Reserva Técnica. Portanto, cumprindo a ordem de prioridade na preservação das coleções e respeitando a especificidade das tipologias existentes, com a atenção voltada à estrutura física do prédio, que abrigaria o acervo, tanto na parte expositiva quanto na elaboração dos cenários. Com parte do trabalho realizado, criou-se a exposição do Memorial Anunciação que fora intitulada de “100 ANOS DA PRESENÇA NO BRASIL” e está organizada por eixos temáticos, conforme definidos pela comissão. No primeiro ambiente, encontra-se a Sala Gênese Congregacional, onde se dá destaque à Fundação da Congregação das Filhas do Amor Divino, suas respectivas Superioras-Gerais, apresentando objetos que contam a vinda ao Brasil e o modo como as Irmãs ingressaram em território nacional. Além disso, em um segundo ambiente, busca-se apresentar o claustro das Irmãs, ou seja, o dormitório, lugar no qual se demonstra o espaço privado, onde constam objetos da vida orante, as Constituições Religiosas, ambiente de estudo e intimidade com Deus. Em um terceiro cenário, é representado o ‘gabinete’ da Superiora Provincial, local que está inserida a parte da gestão da Instituição, e onde se pode ainda apreciar peças que compreendem a administração em outros contextos históricos. Na sequência, nos diferentes ambientes, busca-se evocar a missão desenvolvida pelas Irmãs em terra brasileira ao longo de um século. Priorizou-se: a área da saúde, como frente de trabalho das Irmãs, em hospitais, expondo equipamentos que auxiliaram no atendimento de pacientes e acometidos; o cotidiano religioso no qual são apresentados os objetos que fazem alusão aos ritos da liturgia - missa, culto e celebrações. As peças que compõem essa tipologia destacam o momento de consagração como: cálices, patenas, âmbulas e solenidade de adoração; os usos e costumes, expondo objetos que fizeram parte do cotidiano da Instituição, seja nas residências ou em lugares de missão, representados por materiais que fazem parte do dia a dia das Irmãs, no labor dos ofícios, o modo de organização, seus costumes e objetos que denotam suas práticas de convívio e formação religiosa; a Educação, exercida por inúmeras Irmãs, na regência de classe ou em coordenações nas escolas, representa a missão desempenhada na Congregação desde a sua origem, representada por objetos que fizeram parte das Instituições de ensino da Província. Destaca-se uma coleção que compreende rádios, projetores de slides, máquinas de datilografia e equipamentos de comunicação e ensino. A exposição visa aproximar a comunidade leiga das tipologias à memória, à vida e ao trabalho executado pelas irmãs nesta instituição religiosa, ao longo deste centenário no Brasil. Também é mais um espaço de memória na cidade de Cerro Largo - RS, ou seja, uma oportunidade da comunidade local se apropriar e usufruir deste patrimônio material, carregado de vida e pertencimento. Neste sentido, o memorial é e trata-se de um ambiente que carrega em si a história das Filhas do Amor Divino, uma história repleta de sentidos e simbolismos, apresentando uma cultura material alicerçada na fé, no testemunho e na missão. Portanto, o acervo exposto no Memorial Anunciação perpassa um sentimento único e particular, pois cada irmã estabeleceu, ao longo deste centenário, uma relação íntima com os objetos selecionados e guardados e que se encontram presentes nesta instituição cultural. Ao aproximar-se desta relação de intimidade com as peças, cada irmã evoca as suas memórias particulares e evoca suas lembranças, o que acaba tornando este espaço vivo, dinâmico e propício para o despertar de novas vocações.