Praça Memorial Vladimir Herzog

A construção e manutenção de um lugar de memória passa, necessariamente, pelo acolhimento desse espaço por parte dos atores capazes de conferir sentidos ao local, em uma relação que caminha pela manutenção do legado daqueles que são lembrados a partir da reunião de registros e afetos entre os que se esforçam por preservar o objeto das próprias lembranças. Essa é a lição que marcou a história viva da Praça Memorial Vladimir Herzog, no centro da cidade de São Paulo. Ela é a concretude da reunião de lembranças, propósitos e valores de um grupo de atores sociais contemporâneos ao jornalista barbaramente assassinado em outubro de 1975, quando se apresentou para um depoimento às autoridades brasileiras. Sua morte é o marco do início do fim da ditadura militar neste país. Sua vida encontra na Praça Memorial Vladimir Herzog causa e consequência na história de uma geração. A Praça Memorial Vladimir Herzog localiza-se na Rua Santo Antônio, no bairro Bela Vista – atrás do Palácio Anchieta,onde funciona o legislativo municipal de São Paulo, palco de lutas e pautas democráticas no coração da cidade. O Poder Legislativo também é o administrador oficial da Praça. Sua história passa necessariamente pela institucionalização da memória de Vladimir Herzog como marco da redemocratização brasileira a partir da criação do Instituto Vladimir Herzog (IVH), organização da sociedade civil fundada em junho de 2009. A instituição tem como missão trabalhar com toda a sociedade pela defesa dos valores da Democracia, dos Direitos Humanos e da Liberdade de Expressão. Suas ações se organizam em três grandes frentes: Educação em Direitos Humanos; Jornalismo e Liberdade de Expressão; Memória, Verdade e Justiça. A morte do jornalista Vladimir Herzog e os fatos que sucederam seu brutal assassinato deram origem a uma persona carregada de um conjunto simbólico capaz de abarcar as dores e esperanças de todo um país. Mas seu legado é bem maior que isso: faz-se necessário devolver à memória nacional um Herzog vivo, signo de um jornalismo crítico, aprofundado, comprometido com a verdade dos fatos e, por isso, transformador. Na dimensão histórica, a morte de Vlado e o culto ecumênico na Catedral da Sé, no dia 31 de outubro de 1975, representaram o marco do início do fim da ditadura militar. Ali o arbítrio se escancarava como também a indignação silenciosa das milhares de pessoas que participaram do evento e outros tantos que acompanharam estarrecidos sua divulgação. Outra dimensão indiscutível de Herzog é o seu papel como símbolo da categoria profissional à qual pertencia. Sob a presidência de Audálio Dantas, foi o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo a instituição que encabeçou a resistência naqueles dias. O auditório onde as reuniões mais tensas da história do jornalismo brasileiro da segunda metade do século XX ocorreram ganhou seu nome. E Vlado passou a significar também um marco de consciência de classe. A partir da criação do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos (1978) – e mais tarde do próprio Instituto Vladimir Herzog - uma nova significação emerge da figura de Vlado. Aquele garoto que chegou ao Brasil aos nove anos quando sua família fugia do horror nazista terminou os seus dias sob tortura. Seu nome seria para sempre lembrado como símbolo de luta pelos Direitos Humanos. A construção do mártir se dá, portanto, em bases de tal forma sólidas e agigantadas que outras duas dimensões quase desaparecem ao longo da história. O profissional, o trabalhador Vladimir Herzog e seu legado; assim como o sujeito, o indivíduo – pai, marido, amigo etc. – acabaram por ficar em um plano muito menor no imaginário público. Desde que foi criado, o Instituto procurou reafirmar suas ações no legado de Vlado, sua vida seus valores e princípios. Ou seja, resgatar esse jornalista no contexto do seu tempo, da sua contemporaneidade, mais do que necessário, completaria esse valioso arco de memória.