Instituto Cultural e Ambiental Rosa e Sertão

O Instituto Cultural e Ambiental Rosa e Sertão foi criado em 2007 no município de Chapada Gaúcha por iniciativa de professoras municipais de educação infantil e fundamental, de moradores de comunidades tradicionais e de agentes culturais, a partir do anseio de se valorizar um lugar rico por sua multiplicidade cultural e ambiental. A instituição trabalha há mais de quinze anos com o propósito de promover a cultura popular ligada à proteção e preservação do bioma cerrado, conectando saberes diversos relacionados a modos de vida sustentáveis. Nosso objetivo de trabalho ao longo destes quinze anos visou a promoção da Educação Ambiental e Educação Patrimonial; a contribuição para a proteção do patrimônio natural e cultural; a promoção e o incentivo ao turismo ecológico de base comunitária; a pesquisa e difusão de tecnologias alternativas que causem menor impacto ambiental e promovam um desenvolvimento socialmente justo e ecologicamente equilibrado; o levantamento, o registro e a conservação do patrimônio imaterial e material, relacionado com as populações tradicionais que habitam o cerrado, em especial, a região norte e noroeste de Minas Gerais; ações de saúde e assistência social junto a comunidades localizadas em áreas do cerrado, em especial, a região norte e noroeste de Minas Gerais. Durante estes quinze anos, trabalhamos voluntariamente em diversas iniciativas de cunho social, cultural e ambiental. Em 2008, passamos a obter recursos de origem institucional destinados aos nossos projetos. O primeiro deles foi o Projeto “Manuelzinho-da-Crôa” que, com apoio da Prefeitura Municipal de Chapada Gaúcha, desenvolveu as oficinas de Canto-Coral, Capoeira, Educação Ambiental e Artesanato com produtos do cerrado. Este projeto nos ofertou dois prêmios, sendo o primeiro Pontinhos de Cultura (2009) e Prêmio Pontos de Cultura Ludicidade (2010). O segundo projeto, em curso, é o “Sertão dá flor: semeando saberes, cultivando saúde”, em parceira com o ISPN (Instituto Sociedade e Natureza) através do PPPECOS (Programa de Pequenos Projetos Ecossociais), com objetivo de sensibilizar as mulheres do Vão dos Buracos sobre a importância do Cerrado em pé, incentivando uma rede intercomunitária entre as mulheres das comunidades Buracos e Buraquinhos. Através da experiência de contato intensificado com os moradores destas duas comunidades do Corredor Ecológico Vão dos Buracos, a realização deste projeto nos tem concedido uma visão mais apurada dos significados simbólicos que trazem, à questão ambiental, um importante valor sociocultural. Em julho deste ano de 2009, fomos contemplados com o primeiro lugar do estado de Minas Gerais pelo projeto “Ponto de Cultura Seu Duchim: espaço geral de folias”, no edital da Secretaria de Estado de Cultura de Minas Gerais, através do Ministério da Cultura. O principal objetivo que o Seu Duchim pretende alcançar é o estabelecimento de um espaço de articulação, criação e difusão das expressões culturais de inigualável riqueza histórica da nossa região. Por meio de oficinas que exploram as linguagens diversas de nosso repertório artístico e intelectual, buscaremos consolidar um lugar de troca entre jovens e velhos, homens e mulheres, cidade e roça, pautado não em uma transmissão passiva, mas num aprendizado crítico e criativo onde diferentes perspectivas estejam sempre a se mesclar. Enfim, um espaço geral cujo motor seja o entusiasmo da comunidade ampla em garantir, por meio de folias audiovideomusicais, a valorização e sustentabilidade do patrimônio cultural do Grande Sertão. O projeto “Arara Vermelha: das nascentes preservadas ao turismo de base comunitária” veio para consolidar algumas ações já desenvolvidas no Corredor Ecológico ao longo deste ano. O protagonismo das comunidades do entorno do Parque Estadual de Serra das Araras foi nossa forma de contribuir para o desenvolvimento sustentável local. Dentro de nossa linha de atuação em outros projetos e iniciativas, visamos fomentar o turismo de base comunitária para assim promover a geração de renda sem esquecer da importância dos valores simbólicos e ambientais necessários ao desenvolvimento de qualquer povo. Por fim, o projeto Turismo Ecocultural de Base Comunitária. Informamos que as ações, metas e atividades envolvidas no corpo metodológico do projeto tem como base o Plano de Desenvolvimento Territorial de Base Conservacionista (TDBC) do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu1, através da ação “Turismo Ecocultural”. Neste sentido, coube ao Instituto Rosa e Sertão desenvolver os conceitos metodológicos para a execução do referido plano e aplicá-lo nos 11 municípios do Mosaico. A partir deste olhar, enfatizou-se a importância de aliar a proposta e o conceito do Turismo de Base Comunitária ao projeto, visto que o conceito que antecedeu a elaboração do TDBC foi ecoturismo, mas também trouxe o componente de valorização da cultura forte que uniu estratégias para os inventários culturais e realização do Encontro dos Povos do Grande Sertão Veredas. O objetivo central do projeto é a valorização das culturas sertanejas, seus modos de vida e ao fortalecimento do diálogo das Áreas Protegidas com as Comunidades Tradicionais. Com isso, buscamos como estratégia de conservação e empoderamento local as ações de formação, registro e construção de caminhos, estes já caminhados pelos moradores e moradoras do território. Arena Social e ODM: Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu e a participação social Coletivo Rosa & Sertão e Funatura - Premiação ODM Nacional. Entre os dias 21 e 23 de maio, participamos do evento Arena Social e ODM (Objetivos de Desenvolvimento do Milênio) cujas agendas se uniram para um encontro muito importante: discussão da participação social. Muitos encontros e mesas foram abertos na busca de discutir o novo Marco Legal para Sociedade Civil (luta de muitos anos dos movimentos sociais e ONGs), Direitos Humanos e Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Em especial, tivemos na Cerimônia de entrega do Prêmio ODM Nacional a assinatura de dois decretos importantes para a luta da sociedade civil organizada e movimentos sociais (e aqui destacamos os Pontos de Cultura): a alteração do Decreto 6.170, de 2007. Entre as “principais alterações da legislação estão a reorganização do acesso aos recursos públicos e um aprimoramento na prestação de contas, que passa a ter um acompanhamento sistemático”. Ainda, a análise das contas deverá ser feita num prazo máximo de um ano, podendo ser prorrogado por igual período [1] . E, o decreto que institui a Política Nacional de Participação Social, fruto das mobilizações e diálogos entre a sociedade civil, como também, o respeito por aqueles que nunca dormiram e foram para RUAS. Foi um momento ímpar e nós, mulheres do Rosa & Sertão, estávamos lá! Fomos uma das 30 entidades a receber o prêmio “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” (ODM), realizado pelas Nações Unidas [2] . Como em Minas Gerais, recebemos o reconhecimento pelo processo do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu cujo trabalho é feito por muitas mãos e que aqui gostaríamos de saudar! Saudar a tod@s que fazem parte deste movimento, ao Fundo Socioambiental da CAIXA e FNMA por acreditarem nestes múltiplas possibilidades e na parceria que estabelecemos no projeto. Saudamos as mulheres veredeiras cujo maior ensinamento, base todas as nossas ações, foi reconhecer que há outras formas de se pensar o desenvolvimento e a Cultura é central. E que os modos de vida estão intimamente ligados à forma de se tratar a terra, de se pensar enquanto parte daquele ambiente. Ainda, que não se separa Cerrado, mas sim o identifica enquanto campos, tabuleiro, mata, Gerais, vazante, das veredas. Saudamos os conselheiros do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu que acreditam neste espaço de mediação e ação. Se o projeto é do Plano de Desenvolvimento de base Conservacionista, muito tem da “teima” da Funatura em continuar, mesmo em tempos difíceis, o trabalho na região. Muito tem da Funatura quando inicia um processo que hoje é reconhecido nacionalmente. Mas, percebemos também que os processos fomentados por programas governamentais só se firmam enquanto processo quando há um coletivo que apoia e acredita. Destes muitos a fora, podemos dar o exemplo do Programa Cultura Viva no Brasil, programa que se mantém e ressignifica a cada movimento de encontro - visto agora mesmo no TEIA DIVERSIDADE e Fórum Nacional dos Pontos de Cultura. Podemos afirmar que muito desta parcela está presente nos trabalhados e articulação dos Pontos de Cultura que deixaram ser apenas um programa de governo para se tornar Cultura Viva. Tal como a Política de Mosaicos de Áreas Protegidas – objeto da nossa premiação – que mesmo sem uma ação concreta vem sendo conduzidos pelos seus coletivos, conselhos, GTs temáticos que não pararam sua história. Se hoje os Mosaicos de Áreas de Protegidas sobrevivem à dureza burocrática do plano de trabalho de uma Unidade de Conservação e extrapola seu campo de atuação, muito tem das pessoas que ali desejam, constroem, pensam e atuam para o fortalecimento do território, proteção do bioma e direito de povos e comunidades tradicionais. Neste sentido, é necessário destacar os inúmeros desafios que a margem esquerda do rio São Francisco e oeste baiano vêm sofrendo, como: a pressão sobre os territórios tradicionais no Cerrado com os projetos de infraestrutura e desenvolvimento propostos para a nossa região, como a construção de Pequenas Centrais de Hidrelétricas (PCHs) no rio Carinhanha, um dos principais afluentes do rio São Francisco. Liberação desenfreada de monocultivos de soja, eucalipto, capim exótico, dentre outros, que não levam em consideração a importância do bioma Cerrado e seus povos, que sentem os impactos destes projetos desde a década de 70. Por fim, a demora na regularização fundiária, reconhecimento e demarcação dos territórios quilombolas, indígenas, geraizeiros, veredeiros e áreas protegidas. Por esta luta que afirmamos que o Prêmio ODM recebido na Arena Social é NOSSO! Vamos comemorar tendo como base os saberes de nosso território, da luta por um lugar melhor hoje. Que seja mais que focos de luzes, mais que sensações! Desejamos que pulse, vibre e aconteça junto as nossas bases! E assim, saudamos as companheiras e companheiros de militância e pensamento social do Mosaico Sertão Veredas Peruaçu, as Prefeituras Municipais da margem esquerda do rio São Francisco, as comunidades tradicionais que abrem suas casas e nos ofertam a oportunidade de aprender, ao Conselho Diretor do Rosa e Sertão na figura da nossa presidenta Nadiane Nogueira dos Reis e das nossas ex presidente Márcia Regina Silva Pena, Tereza Jesus Santos e Vera Lucia de Farias Almeida. Saudamos a equipe do projeto TBC Mosaico Sertão Peruaçu, em especial, a Diana Campos (mobilizadora social), Meire Jane (gestora administrativa), a ex-coordenadora técnica Danielle Alves e a ex-coordenadora administrativa Sabrina Mendonça Alves pelo período curto, mas profundo, com pensamento de TBC que amadurecemos ao longo da travessia. As companheiras que contribuíram no início do projeto, mas deixaram muitos aprendizados: Elis Cristina, Laiane Santos, Laura Oliveira, todas são mulheres guerreiras que estão na luta diária de se pensar e viver o Gerais. As companheiras e companheiros de luta Geraizeira, Indígena, Veredeira e Camponesa este prêmio é nosso e os frutos que virão serão de todos Nós. O processo do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu é reconhecido pelo prêmio Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM).