MUSEU DAS TRADIÇÕES DO CAVALO MARINHO

Quando se trata de Andala Quituche talvez o que lhe mais a define é a DIVERSIDADE, amante das culturas, das causas sociais e da educação, Andala deposita esse misto de si em tudo que faz. Formada em Letras pela Universidade de Pernambuco tem paixão pela literatura a que lhe leva ganhar por dois anos o Prêmio Ariano Suassuna de Dramaturgia com os textos Sina em 2017 e Vida Catita em 2022, em 2019 lança seu primeiro livro infantil Ás Astúcias de Mateu e Bastião em Cana Boa Pra Chupa e este ano de 2023 estará lançando o segundo livro dessa coleção. Mas antes de entrar na universidade, Andala fazia cursos regulares de teatro, oficinas teatrais que a levaram á algumas encenações e temporadas nos teatros Recifense. Paralelo aos cursos de teatro Andala Quituche fazia aulas de dança popular de pernambuco que a levou a conhecer e ser arrebatada pelo Cavalo Marinho e pela a gente que faz essa tradição. Suburbana de bairro de classe baixa de Olinda, Andala encontrava refugio cultural na Zona da Mata com as brincadeiras de Cavalo Marinho e Maracatu de Baque Solto até ser levada pelo destino ao Cavalo Marinho Boi Pintado transformando a realidade daquele brinquedo que hoje é referencia dentro do estado de Pernambuco. Seu ultimo e grandioso feito foi o MUSEU DAS TRADIÇÕES DO CAVALO MARINHO que mesmo sem ter formação e estudos sobre museologia, ergueu de forma intuitiva e criativa o museo. Dentro da sede do Cavalo Marinho Boi Pintado tem uma espécie de palco 2 x 6 em que Andala como uma grande caixa cênica teatral, montou sua exposição que foram doadas de forma sensível e firmada na causa por grupos diversos de Cavalo Marinho da Zona da Mata pernambucana. E ali perdida entre as peças doadas para o complementar o acervo expográfico é onde Andala se encontra cotidianamente entre os afazeres do lar, dos cuidados dos filhos, das aulas coma as crianças da comunidades e a produção do Cavalo Marinho. Uma grande matriarca, preta abraçando toda a diversidade dos dias que carrega em seu peito o orgulho de ter parido seu filho caçula e ter fundado um museu em plena pandemia. Conceber o MUSEU DAS TRADIÇÕES DO CAVALO MARINHO não foi uma tarefa fácil, importa destacamos que tal iniciativa começou em pleno período pandêmico, e tal situação se mostrou ao longo do processo desafiadora desde seu início, pois enquanto muitos museus e espaços culturais estavam sendo fechando suas portas em cumprimento as determinações sanitárias vigentes na época, o MTCM estava sendo maturado em um momento que as ideias e as criações estavam sendo cada vez mais comprometidas, já que as nossas preocupações eram da ordem do cuidado pessoal e das pessoas queridas de nosso convívio. Contudo as situações apontadas não interromperam o sonho de criar o museu e mesmo diante de tamanhas preocupações a concepção do MTCM foi aos poucos tomando forma, acreditamos que muito provavelmente o MTCM é o único museu idealizado e inaugurado em pleno momento pandêmico, em uma situação que dizimou sonhos pareceu ser necessário suscitar sonhos. Destacamos ainda que o MTCM é idealizado por uma mulher preta, periférica e brincante da tradição do Cavalo Marinho. O Museu das Tradições do Cavalo Marinho – MTCM foi criado a partir das necessidades de salvaguardar e difundir a brincadeira do Cavalo Marinho que vem num crescente apagamento na sua forma mais genuína de representação. Idealizado e criado por Andala Quituche, o MTCM é no estado de Pernambuco um dos poucos museus concebido por uma mulher, preta e brincante da tradição e é o único museu em seu próprio município. O Museu das Tradições foi inaugurado no dia 22 de novembro de 2020, em plena pandemia da Covid – 19 onde no Brasil inteiro fechavam-se centros e espaços culturais. Como forma de resistência o MTCM foi erguido em meio aos afrouxamentos do lockdown dentro da sede do Cavalo Marinho Boi Pintado, na Zona Rural de Aliança – PE, trazendo para seus pares e seu território um alento nesse momento de devastação. Hoje o Museu das Tradições do Cavalo Marinho é reconhecido no campo museológico como um museu independente e que suas ações são referenciadas desde sua criação as suas atuações sócio-culturais dentro da própria comunidade, no campo educacional recebendo escolas das redes publicas e privadas, alunos de EJA e dentro do roteiro turístico estadual. Promovendo ações culturais nos ciclos festivos como Carnaval, São João e Natalino com a exaltação da nossa cultura popular pernambucana. E ações beneficentes e solidárias como o dia das crianças e o natal solidário em que arrecadam suprimentos alimentícios para doações na própria comunidade além da própria Escola das Tradições do Cavalo Marinho em que Andala Quituche repassa a tradição do Cavalo Marinho para crianças e jovens da comunidade garantindo assim a transmissão e permanecia das tradições de cultura popular pernambucana. O MTCM é um espaço cultural polifônico dedicado a fruição, difusão, extroversão, socialização e salvaguarda do Cavalo Marinho, sendo um museu para a comunidade local bem como toda a sociedade brasileira. E é composto por um acervo com 22 (vinte e duas) peças que foram doadas ao equipamento museológico, dentre estas 21 são da tradição do Cavalo Marinho e o acervo documental que abrange (fotografias, artesanato e outros), e do Clube da Mulher do Campo que possui uma ala dedicada acerca de sua memória. Estão representados no MTCM, 09 (nove) grupos de Cavalo Marinho, sendo estes: Cavalo Marinho Boi Coroado de Araçoiaba (desativado); Cavalo Marinho de Mestre Batista; Cavalo Marinho Boi Ventania (em processo de reativação); Cavalo Marinho Boi Maneiro; Cavalo Marinho Boi Pintadinho de Lagoa de Itaenga (desativado); Cavalo Marinho Estrela de Ouro de Condado; Cavalo Marinho Boi Brasileiro; Cavalo Marinho Boi Tira-Teima e o Cavalo Marinho Boi Pintado. Neste universo de representação que o MTCM apresenta em sua comunicação ao público visitante, têm-se 14 (quatorze) personalidades do Cavalo Marinho que são: Mestre Aicão (falecido); Mestre Mariano Teles (falecido); Mestre João Picica (falecido); Mestre Duda Bilau (falecido); Mestre Pinto (falecido); Mestre Biu Alexandre (falecido); Mestre Antônio Honório da Silva(falecido); Mestre Luiz Paixão (falecido); Mestre Zé de Bibi; Mestre Grimário; Joel da Rabeca; Pedro Luiz; Wellington Rubens Severino da Silva – Nieto. E por fim, no que tange ao acervo doado e exposto ao museu, tem-se a seguinte tipologia de objetos do universo do Cavalo Marinho: Golas; Chapéus; Chapéus de galante, Máscaras, Caixote de engraxate, Liberá - roupa completa da figura, Arco de rabeca, Pandeiro, Rabeca, Boneco, Véia do Bambu - roupa completa e Capitão Marinho ou Galante - roupa completa, além de documentos diversos sobre a memória do Clube da Mulher do Campo. O Acervo do MTCM é uma coleção etnográfica e memorialística, pois trata de personalidades e grupos de Cavalo Marinho garantindo a salvaguarda dessa tradição de forma única através da comunicação museológica.