Associacao Dos Moradores da Aldeia Indigena Agua Branca II

CADASTRO PONTOS DE MEMÓRIA - CENTRO CULTURAL KAINGANG - VÃRE Londrina - Paraná HISTÓRICO DO VÃRE - CENTRO CULTURAL KAINGANG Se nos aproximarmos ao conceito apresentado pelo IBRAN: “O Programa Pontos de Memória tem como objetivo promover ações de reconhecimento e valorização da memória social, de modo que os processos museais protagonizados e desenvolvidos por coletivos culturais e entidades culturais, em seus diversos formatos e tipologias, sejam reconhecidos e valorizados como parte integrante e indispensável da memória social brasileira.” Podemos afirmar sem sombra de dúvidas que somos um Ponto de Memória, principalmente pela realização de ações que contam a história do nosso povo, de dentro pra fora e não como objeto de estudo de não indígenas. Nosso espaço é a sistematização livre do que vivemos em nossas rotinas e demonstra o que somos e o que construímos enquanto povos indígenas. Este espaço é resultado de ações concretas, de reflexão, e principalmente, de nossos modos de vida: povos originários. Somos história e somos fazedores de cultura que contribuem para o fortalecimento de uma museologia social brasileira. Abaixo relataremos, pelas áreas a qual se interessa este edital, um pouco das ações realizadas por nós. No campo da cultura: Oficinas de pintura corporal: Para nós a pintura corporal é um elemento muito importante pois representa a organização social do povo Kaingáng. O processo de feitura das tintas, com elementos da natureza e essa expressão artística em nossos corpos é um ritual ancestral e de fortalecimento e manutenção de nossas histórias. Assim, manter esses rituais, principalmente para as crianças e para os jovens, é muito importante para nossa cultura. Sede do grupo de dança Vãnh Ga: Outra manifestação cultural tradicional para nós é a dança. Por ela expressamos valores e costumes tradicionais que nos identificam como uma etnia diferenciada. Compreendemos a dança como uma manifestação cultural indígena histórica e de resistência. Esse ritual demonstra muito das nossas relações e contribui para a manutenção e o fortalecimento da nossa cultura, possibilitando ainda difundir nossa cultura e a resistência do povo Kaingang para os não indígenas. Festa dos povos indígenas: Promovemos na data de 19 de abril, seguindo o calendário nacional, uma festa em comemoração aos nossos povos. Neste dia valorizamos aspectos importantes da nossa cultura, como a memória e a transmissão dos saberes tradicionais através de nossas manifestações culturais. Mostra de comidas típicas: Em todos os eventos que realizamos no Vãre aproveitamos também para demonstrar elementos e comidas típicas de nossa culinária como o Gãr p?n mré matata v?, nosso milho indígena com batata doce. Com milho também fazemos bolo azedo (?m?) e pixé (m?n-hu) e nós assamos a batata doce no fogo de chão. A Ka mó, mandioca é uma das comidas típicas dos Kaingang, onde nós a assamos na brasa do fogo. Outro prato típico que compartilhamos durante nossas festas é o Pyrfé, a base de ortigão. Jogos indígenas: Nós organizamos e reunimos etnias Kaingang e Guarani das aldeias Água Branca e Apucaraninha, localizadas próximas às Londrina e Tamarana, e da Terra Indígena de Laranjinha, no município de Santa Amélia, para evidenciar nossas tradições através de nossos esportes ancestrais. Tivemos cerca de 200 participantes em dez modalidades: corrida de tora, arremesso de pedra, corrida de maraká, corrida, futebol, arremesso de lança, zarabatana, arco e flecha, luta corporal e cabo de guerra. Além de uma grande comemoração pelas nossas tradições é um momento que atingimos novos públicos para mostrar uma cultura de vários séculos. Acreditamos que o respeito vem também do conhecimento das diferenças. No campo da educação: Palestras e apresentações: Promovemos encontros com a comunidade, tanto no Vãre, quanto em outros espaços que nos convidam para falarmos sobre a cultura kaingang, como o Museu Histórico de Londrina, que nos últimos anos tem nos apoiado em multiplas dimensões. Em 2019 inauguramos junto ao Museu Histórico de Londrina uma exposição permanente sobre a presença indígena nessa região do estado do Paraná, que era vista como um grande vazio demográfico, mas nós Kaingang, e nossos parentes Guarani e Xetá, estamos aqui desde antes da chegada dos primeiros colonizadores. Em 2023 participamos como convidados da 21º Semana Nacional de Museus, em uma roda de conversa sobre nossa cultura tradiconal e cestaria. É importante para nós estes momentos de escuta pois sofremos muito com os preconceitos. Levamos nossa história e nossas diferenças e abrimos espaços para diálogos e entendimentos que podem amenizar esse olhar dos não indígenas. Medicina kaingang: Promovemos oficinas de medicina tradicional, pois é nela que está a essência da nossa vida. A medicina tradicional kaingang se baseia no preparo de remédios com ervas do mato. Pensamos que uma política de respeito deve proporcionar e ampliar os espaços de autonomia e decisão indígena e que integrem o sistema de medicina tradicional kaingang nos processos de gestão e implementação das políticas públicas de saúde para nosso povo indígena Sala de informática: Através de uma doação conseguimos montar uma sala de informática, onde recebemos informações de voluntários, que ofereciam curso para qualificação profissional, assim como possibilitar que todos usem as máquinas para estudar e participar de outros cursos. Laboratório de Infâncias e Multiletramento: Através de uma parceria com a Associação Casa da Árvore e o Fundo da Crianças e do Adolescente do Paraná, atividades de educação ambiental utilizando as tecnologias estão sendo implementadas com as crianças que vivem ali. No campo do desenvolvimento comunitário. Oficinas de cestaria e artesanato: A cestaria kaingang é uma das principais fontes de renda de nossas mulheres. Assim, proporcionar aos mais jovens esta atividade tradicional e de muita importância para o nosso povo, nesses momentos é feito demonstração de trançado, padrões gráficos e pintura. Também realizamos essas atividades em outros espaços culturais para promover nossa cultura. Exposição e local de venda: No Centro Cultural vendemos nossas artes, principalmente a cestaria. Alí qualquer interessado pode ter acesso, conhecer e comprar nossa produção. Divulgação da cultura manual: Além da cestaria também disponibilizamos no centro cultural outros tipos de artesanato como cocares tradicionais do povo kaingang e colares, pulseiras e outros adereços e utilitários. Assim, todas essas ações fortalecem o conceito de museologia social proposto por esta política pública referente a Ponto de Memória. No Vãre acreditamos que ressignificados o conceito tradicional ocidental de museus que conhecemos, e o temos numa visão senso comum, para um lugar aberto e acolhedor para o nosso povo. É um lugar de vivências, de cultura, de ações educativas, de convivência, de pesquisa, de exposição sobre nossa história. O Vãre constitui um importante espaço urbano para nós indígenas kaingang, é nosso lugar de acolhimento, luta e resistência, ali podemos ser quem nós somos, um povo originário e histórico. Mas não nos enganamos e não podemos, infelizmente, nunca descansar, porque diferente da Terra Índigena Kaingang de Apucaraninha, demarcada e legalizada, o Wãre é considerado pelos brancos, um lugar de propriedade da gestão pública, e sempre há investigadas para nos tirarem dali, mesmo estando a mais de 50 anos. O Vãre é um lugar sagrado para nós, kaingang. Ser um ponto de memória é de grande importância para nossa luta. Entendemos que trabalhamos nosso centro cultural com uma abordagem interdisciplinar e participativa que vai de encontro com a base no Plano Nacional Setorial de Museus – PNM e Plano Nacional de Cultura – PNC, trabalhando a memória como fator de inclusão e transformação social, por meio da integração das diversas iniciativas museais brasileiras, além da promoção do patrimônio material e imaterial local. Somos um lugar de memórias, diversidade social e cultural de um Brasil de muitas tradições, histórias, cores e culturas.