Ponto de Memória da Associação Quilombola do Cumbe/Aracati – CE

O Quilombo do Cumbe está situado no município do Aracati, litoral leste do Ceará, e foi certificado pela Fundação Cultural Palmares em dezembro de 2014. De maioria negra/quilombola, a comunidade é composta por aproximadamente 180 famílias, onde destas, 110 se autodefinem como quilombolas, formada por pescadores/as do mangue, agricultores/as, artesãos/ãs e demais ofícios, onde temos na relação com o território tradicional nosso principal meio de vida. Desde 1996 que nós quilombolas pescadores do mangue do Cumbe vêm se organizando para enfrentar as injustiças ambientais, os cercamentos expulsivos e o racismo ambiental cometido pelas políticas econômicas dos empresários e empresas que atuam dentro da comunidade, apoiadas e financiadas pelos governos. Os conflitos socioambientais começam a surgir nos anos 1970 com a chegada da CAGECE (Companhia de Água e Esgoto do Ceará), depois com a Carcinicultura – criação de camarão em cativeiro no manguezal (1996), e em 2009 com a instalação das usinas eólicas, o que vem contribuindo para o aumento da compra e venda de terras por veranista na comunidade. Com a certificação do Quilombo do Cumbe como comunidade remanescente de quilombo, intensifica-se na comunidade os conflitos internos entre quilombolas e não quilombolas, financiado e apoiado pelos empresários que atuam dentro do território, veranistas, grileiros de terras e políticos locais, que agem com o intuito de criminalizar a luta dos quilombolas do Cumbe, principalmente, as pessoas que estão à frente dos processos de lutas. Contextos como esses contribuem para morosidade no processo de regularização fundiária, negação da identidade quilombola pesqueira, acesso de políticas públicas voltadas para a população quilombola do Cumbe, via município. Diante desse cenário, nós quilombolas, através da Associação Quilombola do Cumbe, vêm desenvolvendo diversas atividades culturais com o intuito de visibilizar as resistências e lutas travadas pela defesa dos nossos direitos sociais e culturais, bem como a defesa do território quilombola de uso comunitário. Em 2021, completamos 25 anos de luta e resistência, o que requer de nós buscarmos apoio, realizar parcerias e pensar estratégias que contribuam para nossa autonomia e sustentabilidade. Meios que possam nos ajudar a custear as nossas despesas que são diversas como pagamento de água, energia, internet, material permanente de escritório, manutenção do carro, de 2 barcos e outras despesas que surgem no dia a dia. As ações desenvolvidas pelo Ponto de Memória da Associação Quilombola do Cumbe, são variadas e acontecem durante o ano todo, iniciando no mês de fevereiro com o Bloco de Carnaval Karambolas do Cumbe, abril com a Queima do Judas e a brincadeira do Pau de Sebo - no Sábado de Aleluia, em junho com a Semana do meio ambiente e o Arraiá do Manguezá, em julho com a Dia Mundial de Defesa dos Manguezais, a Festa do Mangue do Cumbe em outubro, a Semana da Consciência Negra em novembro e o Dia do Quilombo do Cumbe em dezembro, fazem parte de algumas das nossa estratégia política de luta, além de buscar impulsionar o Turismo Comunitário, que envolve todo o sistema ambiental e produtivo, onde se busca ocupar nosso território com atividades diversas como aula de campo pelos lugares de memórias, sitíos arqueológicos e pelo território, onde trabalhamos a cultura alimentar do mangue (pesca, mariscagem, cata de caranguejo), visita aos quintais produtivos, casas e espaços dos artesãos e artesãs, fortalecer nossas manifestações culturais, divulgar os caminhos dos passeios de barco pelo estuário do Rio Jaguaribe, caminhadas pelas dunas, manguezal e lugares de memória no território quilombola do Cumbe. Temos nossas reuniões mensais, onde realizamos rodas de conversas intergeracional, formações sobre a história local, patrimônio material e imaterial, ações essas importante para avançar com nossos processos organizativos e luta política, tendo a memória social do grupo como ferramenta importante de defesa da nossa identidade quilombola pesqueira e do nosso território tradicional.