Ponto de Memória do Grande Bom Jardim

O Ponto de Memória do Grande Bom Jardim é um dos 12 pioneiros do Programa Pontos de Memória (PPM/IBRAM). A iniciativa popular em memória social e museologia comunitária é situada na periferia ao sudoeste da cidade de Fortaleza, Ceará, no território Grande Bom Jardim, situada à Avenida General Osório de Paiva, 5623, Canindezinho, 60.731-335, Fortaleza, Ceará. A experiência periférica e popular busca desenvolver processos continuados, comunitários, participativos de pesquisa de inventário do patrimônio cultural do território Grande Bom Jardim, concebendo e desenvolvendo projetos narrativos em suporte museológico, lançando mão da memória social, da museologia comunitária, da linguagem e do patrimônio como ferramentas políticas de empoderamento e de transformação social, situando o território, seu povo e suas narrativas no centro dos espaços de tomada de decisão tendo como lema “Somos a memória que temos e a responsabilidade que assumimos. Sem memória não existimos. Sem responsabilidade talvez nem merecêssemos existir”. José Saramago. O Grande Bom Jardim (GBJ) inseriu-se como agente protagonista e de forma coletiva em um dos mais importantes processos de regulamentação das diretrizes da Mesa de Santiago do Chile (1972), a construção e afirmação do Programa Pontos de Memória, pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), autarquia federal vinculada ao Ministério da Cultura. O PPM aproximou as comunidades periféricas do espaço de tomadas de decisão sobre a política nacional museal, sistematizou processos museais historicamente realizados por movimentos periféricos no Brasil e transferiu recursos diretos, conceitos e tecnologias sociais operantes às bases. Por estas razões, tanto os Pontos de Memória periféricos em todo o Brasil, assim como a principal metodologia decorrente, os processos continuados participativos e comunitários de inventário dos patrimônios locais, as rodas de memória e os processos museais comunitários e territoriais se constituem tecnologias sociais inovadoras e potentes a serviço das bases para promover e fortalecer as sua lutas sociais por autoafirmação e por direitos sociais. Também foram agentes sociais protagonistas pró-ativos e receberam apoio do PPM outros 11 Pontos de Memória de comunidades periféricas pelo Brasil: Terra Firme (Belém, PA); Coque (Recife, PE); Jacintinho (Maceió, AL), Beiru (Salvador, BA); Taquaril (BH, MG); MUF (Rio, RJ); Brasilândia (São Paulo, SP); Sítio Cercado (Curitiba, PR); Lomba do Pinheiro (Porto Alegre, RS), Estrutural (Brasília, DF). O Ponto de Memória GBJ foi eleito, em 2014, representante dos Pontos de Memória Pioneiros no Comitê Consultivo do Programa Pontos de Memória, conforme portaria nº 385, de 9 de novembro de 2017, decisão tomada na Teia de Belém, PA. Contribuiu para a legitimação da política de Estado da política nacional em memória social e museologia comunitária, materializada nas portarias nos- 315, de 6 De Setembro de 2017 e 301, de 9 de setembro de 2019, que dispõem, respectivamente, sobre a institucionalização do Programa Pontos de Memória e a criação do Comitê Consultivo do Programa Pontos de Memória. Assim como a política nacional de cultura e museal foram abaladas pelo avanço do projeto neoliberal ultraconservador em curso no país desde a jornada de junho de 2013, estrutura consumada no golpe parlamentar, midiático e judiciário de 2016 e na eleição da extrema direita em 2018, a iniciativa em memória social e museologia comunitária do Grande Bom Jardim também foi abalada. Passamos desde 2018 por um processo político depressivo. Em termos de política de fomento, as últimas gestões da política de cultura de Fortaleza foram um fracasso e retrocesso. Neste período, foram as políticas da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará e a parceria com o Grupo de Extensão Diálogos, da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (UNILAB) que deram alento e amparo para não parar por completo. E as grandes crises articuladas institucional, política, socioeconômica e sanitária contribuíram e muito para desmobilizar os processos e focar na garantia da sobrevivência física dos corpos.