Associação Educacional e Cultural Filhos de Lázaro

A partir da Diáspora Africana imposta pelo sistema escravocrata adotado pelos colonizadores, as Casas de Candomblé foram organizadas no Brasil como espaços de representação e preservação da memória ancestral de diversos povos africanos. Os “espaços terreiro” tornaram-se, então, territórios de liberdade e de prática das manifestações de religiosidade. Corroborando na reconstrução, conservação e manutenção das culturas africanas e afro-brasileiras. Esses espaços sagrados são construídos e mantidos pela comunidade terreiro com as bençãos das divindades e pautadas nas tradições de nossos antepassados. Dentro da comunidade do terreiro o legado imaterial é entendido como um conjunto de saberes, fazeres, manifestações e elementos não físicos transmitidos pela oralidade, dentro de cada geração sendo transmitida pelos mais velhos aos mais novos. A transmissão desse conhecimento ocorre no cotidiano da casa. Há ainda o legado material, formado por objetos de culto e pessoais das lideranças religiosas das casas de axé. O Babalorixá Máximo Canuto nasceu na cidade de São José do Rio Preto no Estado de São Paulo no ano de 1921. Após alguns anos de iniciado no Candomblé de nação Angola (fora iniciado por volta dos 33 anos), mudou para o Candomblé de nação Ketu sob os cuidados espirituais de seu zelador Senhor José de Matos, Babalorixá cuja casa matriz era o Terreiro de Gantois (BA). No ano de 1949, o Babalorixá Máximo Canuto adquiriu um terreno no distrito de Guaianases (São Paulo/SP), onde a roça de candomblé está localizada atualmente (as atividades religiosas iniciaram-se neste espaço em 1955, assim, o espaço sagrado está no mesmo lugar há 68 anos). O Ilê Axé Omo Ajunsun se estruturou neste solo sagrado afro-indígena, sob o comando de Pai Máximo de Omolu. O terreiro ocupa uma área de aproximadamente 2.000 mil metros quadrados (m2). As edificações de uso religioso e habitacional ocupam cerca de 1/3 do total do terreno. Sendo matriarca de uma família de dez filhos, após consulta ao oráculo e por razões pessoais e familiares, o Pai Máximo de Omolu passou a realizar rituais internos e somente com a participação de seus filhos biológicos. Paralelamente atendia pessoas que buscavam aconselhamentos em momentos de aflição oferecendo auxílio espiritual. Com o seu falecimento em 1999, o Ilê permanece sem atividade até o ano de 2014, quando os rituais são retomados sob a responsabilidade de sua filha biológica Ialorixá Mãe Mara de Ogum, auxiliada pelo Babalorixá Katy de Odé. Foram iniciados 6 (seis) neófitos, sendo que 4 (quatro) deles com ligação biológica com o fundador da casa de axé. Mãe Mara de Ogum retoma as atividades do Ilê com a missão de preservar a crença e os costumes do culto e pela antiguidade de atuação do terreiro no local, mantendo as tradições de seu pai. Busca ainda manter o respeito e zelo com a comunidade e meio ambiente, essencial para o funcionamento e existência da casa. Otás (pedras) e folhas simbolizam a preservação e existência do culto, bem como os alimentos ofertados que são comungados com a comunidade, tendo papel fundamental no combate à fome. A Casa de Santo acolhe a todos que a procuram em busca de uma palavra de conforto, auxílio espiritual ou promovendo ações com a participação da comunidade, além da vivência social neste espaço sagrado são forjadas identidades religiosas diferenciadas, funcionando como agente transformador que em suas danças, vestes, culinárias e ritos proporcionam não somente um resgate cultural, mas também integração social, respeito, educação e amparo não apenas os próprios membros da comunidade, mas a todos no território de seu entorno. Além da preservação das tradições ancestrais, o Ilê realiza um trabalho com os filhos da casa no combate ao racismo religioso com palestras e atividades que visam coibir a intolerância, o racismo religioso e a estigmatização das religiões de matriz africana, em como prevenir e enfrentar as violências exercidas contra seus praticantes, seus símbolos e lugares de culto. As festas realizadas pelo terreiro movimentam e aquecem o comércio local, gerando renda para trabalhadores informais como entregadores de gás, costureiras, boleiras, aproximando ainda mais a comunidade local do Espaço sagrado, buscando superar as dificuldades do diálogo inter-religioso de convivência. A Ialorixá Mara detêm a reciprocidade de sentimentos por parte da comunidade, que a admira e respeita. O Ilê Axé Omon Ajunsun tem participação ativa na história do Bairro de Guaianases/Lajeado, e mantém ótimas relações com a comunidade e obtém o seu reconhecimento. No contexto atual, o Ilê objetiva estruturar programas, projetos e ações de modo oficial, de modo a atender pessoas da comunidade terreiro e das comunidades do entorno, e busca a captação de recursos para a expansão das tradições culturais, ações educativas e utilizando a museologia social como princípio e ferramenta para o desenvolvimento comunitário.