Quilombo Urbano do Barranco do São Benedito

Desde a formação da Comunidade do Barranco em 1890 a cultura fundamenta a territorialidade ocupada pelos seus integrantes. Dentre as manifestações culturais principais que surgiram durante a sua fundação, destacaram-se a devoção a São Benedito e a festividade do boi-bumbá Caprichoso que atuaram como espaços de sociabilidade, integração e desenvolvimento comunitário. Através dessas comemorações - em especial do festejo de São Benedito – pode-se preservar uma herança cultural que tem sido transmitida de geração à geração entre as famílias pertencentes a esse agrupamento. No ano de 2023, a tradição festivo-religiosa completou 133 anos e por meio desta a Comunidade do Barranco pode ser reconhecida como Quilombo Urbano pela Fundação Palmares em 2014. Através disso, houve uma série de transformações na comunidade negra que impulsionaram a sistematização das histórias e memórias familiares, a catalogação dos registros orais, fotográficos e documentais. Por meio destes foi possível a realização de pesquisas acadêmicas nos mais diversos campos de conhecimento que produziram trabalhos históricos, antropológicos, etnográficos, etc. A partir disso, houve mais visibilidade à comunidade negra e às suas práticas culturais, impulsionando a criação movimentos fundamentais, dentre estes a Associação Crioulas do Quilombo de São Benedito em 2014, o Espaço Cultural Maria de Lourdes Fonseca – “Tia Lurdinha” e a formação do Espaço Pagode do Quilombo, ambos em 2015. Por meio dessa tríade que envolve as organizações e espacialidades quilombolas houve uma ampliação da difusão cultural negra e quilombola. Nesse processo, rompeu-se os limites da territorialidade do Barranco gerando o “quilombo cultural” que é responsável por aquilombar indivíduos e coletividades internas/externas à comunidade, potencializando às práticas e à atuação sociopolítica dos remanescentes de quilombo. Dentre as ações desenvolvidas no “quilombo cultural”, temos a Festa que São Benedito que é realizada pela Comunidade do Barranco e acontece durante o mês de abril e maio. Outra festividade de grande alcance dentro do Quilombo do Barranco é a festa da Consciência Negra que acontece no mês de novembro e dispõe de uma programação cultural ampla que inclui o samba raiz, o maracatu, a capoeira e a distribuição de feijoadas para seus participantes. Ademais, há outros eventos, que incluem o Dia das Mulheres Negras, Afro-Ameríndias, Latino-Americanas e Caribenhas, o Dia de São Cosme Damião, o Dia das Crianças, o Dia das Mães, o Natal das Crianças e outras iniciativas que se somam aos eventos e projetos culturais realizados pelos quilombolas. De modo contínuo há programações no “Espaço Cultural Maria de Lourdes – Tia Lurdinha” que é administrado pela Associação Crioulas do Quilombo de São Benedito. A princípio o local era destinado à exposição dos artesanatos confeccionados pelas crioulas, posteriormente, foram realizadas programações socioculturais como roda-de-conversas, palestras, oficinas de capacitação, exibição de filmes e documentários abordando a história e cultura negra. A espacialidade foi nomeada como “Espaço Cultural Maria de Lourdes – Tia Lurdinha”, fazendo referência a história da “Tia Lurdinha”, mulher negra, quituteira, carnavalesca e uma das principais organizadoras do festejo de São Benedito que marcou significativamente a história dos quilombolas, através de seu exemplo de devoção ao santo preto. O “Espaço Cultural Maria de Lourdes – Tia Lurdinha”, conhecido também como “Stand das Crioulas”, localiza-se na Avenida Japurá, número 1364 no bairro da Praça 14 de Janeiro. O seu funcionamento acontece durante os sábados a partir das 16 horas, onde tem sido realizada a exposição de artesanatos com acesso livre ao público. Atualmente dentre o público que transita nesse espaço ressaltamos a diversidade de sujeitos, coletivos e movimentos raciais/sociais que se alinham à pauta antirracista em defesa das populações negras, ademais, as crioulas tem recebido estudantes de escolas e de universidades, tendo em vista compartilhar o seu fazer histórico e cultural Nesse interim, destacamos também o Pagode do Quilombo foi criado ano de 2015 na Comunidade negra do Barranco com intuito de difundir a culinária e a musicalidade negra. Paulatinamente o espaço cultural foi conquistando seu lugar, recebendo diversos musicistas e grupos musicais que apresentam o ritmo do samba raiz, este se consolidou enquanto um ponto de cultura. O Pagode do Quilombo já faz parte do circuito do samba da cidade de Manaus, contando com a participação de um público expressivo e a apresentação de músicos de outros estados do país. Nesse processo, a difusão dessa cultura seria um aspecto importante para analisar a atuação dos quilombolas que tem revertido parte da renda financeira adquirida para a realização da Festa de São Benedito. O espaço cultural funciona todos os sábados a partir das 14 horas na Avenida Japurá, número 1362, no bairro da Praça 14 de Janeiro. Em sua programação, apresenta a tradicional roda-de-samba, dispondo ainda da venda de feijoadas e quitutes aos presentes. Destacamos ainda o surgimento do Grupo de Pagode “Pão Torrado” que iniciou a partir da criação desse “ponto de cultura” e atualmente é composto por quilombolas e membros externos à comunidade negra. Além da música e da culinária afro-brasileira, no Pagode do Quilombo tem sido realizadas reuniões, oficinas formativas, palestras, entre outros eventos socioculturais que se alinham às histórias, memórias, culturas e políticas das populações negras. Partindo disso, podemos dizer que essas ações culturais são potencializadas pelo “quilombo cultural” que fortalece, legitima e amplia a cultura negra e quilombola, consagrando o Quilombo Urbano do Barranco de São Benedito enquanto ponto de cultura referencial da cultura negra manauara.