Oficina Escola Naval Mestre Harildo

A Oficina Escola Naval Mestre Harildo (OenmH) leva a um maior número de pessoas a memória da pesca artesanal e sua importância para a cultura popular, no que tange à atividade tradicional pesqueira na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, por meio da produção de centenas de miniaturas de canoas de boçarda, as canoinhas. Peças que qualificam, embelezam e demarcam o ambiente cultural e informam a presença da População Tradicional que vive na área protegida e disputada pelo Turismo e seus excessos. Fizemos a primeira exposição de canoinhas em maio de 2021, lá no território, com bandeirinhas brancas e azuis, enfeitando as canoas, no aniversário de 1 ano da Oficina Escola Naval. De lá pra cá a Oficina faz constantes mostras das canoinhas que surgem nas aulas, mostras na bancada, sobre as canoas, onde se pode conhecer também o trabalho de restauração nas canoas centenárias em atividade na pesca artesanal. A OenmH torna-se um lugar de interesse para a comunidade. Uma das canoinhas, de nome Carapicu, um peixe dali da região, apresentou a “companha” completa: antigos pescadores que pescaram com mestre Harildo homenageados em bonequinhos de pano feitos pela filha do Mestre; bonecos em suas posições de pesca, sentados nos bancos da canoinha, e de pé na popa, de mãos nos remos. A bancada passa a ser um lugar de exposição e de diálogo sobre a cultura tradicional. E mestre Harildo recebe a "Moção de Aplausos" da Câmara Municipal de Arraial do Cabo e, por conseguinte, as canoas da pesca artesanal da Prainha, Praia Grande, Praia dos Anjos e Praia do Pontal são declaradas Patrimônio Histórico Cultural Material do Município de Arraial do Cabo - Lei 2.318/2021. A Oficina Escola faz uma parceria educativa com o Instituto Federal do Rio de Janeiro-IFRJ, Campus Arraial do Cabo, e nessa oportunidade estudantes do curso de Ensino Médio técnico em meio ambiente vêm ao território da Oficina, na praia, junto aos paióis da pesca artesanal, dentro da Unidade de Conservação Federal, aprender o nautimodelismo, a esculpir as canoinhas. E por meio da arte a memória da pesca e as histórias do Arraial contadas por mestre Harildo. Quantas vezes mestre Harildo não revelou histórias de avôs de alguma aluna e aluno durante as aulas. Que surpresa! A Oficina conduz crianças e jovens à experimentação da arte popular brasileira - "e pesquisas vêm demonstrando que uma das características da arte popular, enquanto processo de trabalho, reside exatamente na integração da atividade manual com a intelectual, na associação entre a obra produzida e seu autor" (DA PESCA E OUTRAS ARTES: MEMÓRIAS DE ANTÔNIO DE GASTÃO, 1993), e na interação do autor com a especialização, o território. Desde que a Oficina Escola Naval começou, ela salvaguarda um saber tradicional transmitido no ato de esculpir, favorece a conexão com os mais velhos e o refestelar das histórias. A Oficina Escola Naval Mestre Harildo tem protegido o ambiente cultural e organizado o lugar. É uma opção de trabalho e renda aos mais jovens, adultos e mais velhos, nascidos na comunidade pesqueira e que hoje vivem uma indefinição quanto à própria existência da profissão do pescador artesanal. É a experiência da arte, a valorização de artistas que se descobrem artistas. O objetivo do mestre Harildo é tirar as crianças dos vícios das ruas; ensinar a carpintaria naval, e que os mais novos tenham uma relação com esta tradição ainda viva. Só no ano de 2020 contamos a reforma completa das canoas Trovão, Cação, da Marreca que virou Cação IX, da Pindorama, e da Antonina, que começava a ser restaurada. Em 2021, além da atividade de restauração de canoas e da produção de canoinhas de boçarda, a Oficina Escola adquiriu uma peça artística, a miniatura de uma traineira de um pescador do Arraial, o Doque, conhecido por sua arte, e que naquele momento falecera. A Oficina começa a constituir um acervo para a prática museal e de educação patrimonial. Recebeu a doação da canoa Andrada, canoa de 150 anos, feita em Oiticica, fora de atividade, para ser restaurada e compor seu acervo, e da canoa Natureza, ainda nas areias da Praia Grande. Além de toda essa atividade na comunidade, mestre Harildo coordena o Centro Espírita Pai José do Congo, com sede no quintal de sua casa na Prainha.