Museu da Pesca Tradicional/Sala Expositiva Mestre Chonca

O Museu da Pesca Tradicional/Sala Expositiva Mestre Chonca é um museu social, comunitário e coletivo, da sociedade civil organizada, sem fins lucrativos, em estreita relação com as redes do Circuito dos mestres sabedores da cultura popular de Arraial do Cabo e àqueles ainda a serem criados na Região dos Lagos, entre outras localidades, como movimento de resistência, defesa e salvaguarda do patrimônio cultural e natural e dos bens materiais e imateriais da cultura local e regional. Em retrospectiva, o marco de todas essas articulações expostas acima começou com a defesa do “estaleiro do Mestre Chonca” e do território do “porto das canoas” da Praia Grande. Inicia-se, em 2010, no momento em que a prefeitura local realizava obras na orla da Praia Grande ao criar embaraços, constrangimentos e transtornos operacionais na área do “estaleiro naval do Mestre Chonca”, no “Portos das Canoas” e no local de encontro dos antigos pescadores e moradores designado como Banco do pau dos velhos ou Banco do pau mole. Neste período o Mestre Chonca recebe o prêmio do edital “Mestres e Grupos das Culturas Populares”, da Secretaria do Estado da Cultura do Rio de Janeiro (chamada pública nº 027/2010), por ele transmitir, informalmente, seu saber-fazer das reformas de canoas de boçarda para pescadores e moradores. Somente em 2015 a Prefeitura fez as obras de alvenaria do paiol do Chonca, com duas salas e banheiro. Uma das salas, em 21 de setembro de 2016, foi transformada no pequeno museu denominado de “Museu Escola Naval/Sala Expositiva Mestre Chonca”. Em 2020, o nome do museu fora renomeado para Museu da Pesca Tradicional/Sala Expositiva Mestre Chonca. Entre 2015-2016 fiz o registro, com documentação audiovisual, desde o alicerce até a constituição do prédio de alvenaria e a concepção, montagem e idealização do acervo e da vitrine do “Museu/Sala Expositiva Mestre Chonca”. Localizado na Praia Grande, este museu busca reformar as grandes canoas de boçarda (ou “bordada” ou de um “tronco só”) ao trabalhar com a transmissão do saber-fazer das oficinas de reformas de canoas de arrasto de beira de praia e nas oficinas de miniatura de embarcações, ao contribuir para a salvaguarda da pesca tradicional e territórios dos “Portos das Canoas” das praias de Arraial do Cabo (RJ). O acervo da “Sala Expositiva” do museu é composto por ferramentas manuais de carpintaria naval e por miniaturas artesanais de canoas de boçarda – gentilmente, emprestadas e/ou doadas – feitas por diversos artesãos e moradores da cidade, inclusive, pelos próprios alunos das oficinas de miniaturas de canoas, ministradas pelo mestre “Chonca”, entre outras ações. O acervo ainda conta com amostras de madeiras e fragmentos vegetais (madeiras centenárias e/ou milenar da Mata Atlântica que se transformaram em canoas monóxilas) e que se constituem em um testemunho do conhecimento tradicional relacionado à matéria prima usada na construção e/ou reparo de canoas artesanais. No seu pequeno espaço, tem-se uma exposição significativa composta por imagens e textos. Antes da pandemia recebia, periodicamente, estudantes e professores do IFRJ e pesquisadores de várias instituições para as “rodas de conversas” sobre a natureza profunda associada à pesca tradicional e às áreas das restingas, costeiras e marinhas. De meados de 2019 a fevereiro de 2020, antes da crise sanitária, buscou-se estruturar os trajetos dos roteiros em TBC – Turismo de Base Comunitária. Houve visitas experimentais em pequenos grupos ao “Museu/Sala Expositiva Mestre Chonca”, nos paióis dos pescadores tradicionais da Praia do Pontal e nos “pequenos museus/salas expositivas” do “Circuito”. As estratégias destas visitas eram de serem complementadas - de forma opcional - através das diversas oficinas tradicionais e nas vendas de artesanatos. Além de gerar trabalho e renda através do TBC - Turismo de Base Comunitária e/ou na transmissão das oficinas dos “saberes-fazeres” tradicionais para públicos específicos e amplos ao compartilhar experiências, vivências, sabedorias e conhecimentos entre estudantes, pesquisadores, moradores, visitantes e turistas a partir da economia criativa e solidaria. No início de dezembro de 2019, no IFRJ, coletivamente, foram abertos os debates para a ampliação arquitetônica do “Museu/Sala Expositiva Mestre Chonca” em cima do documento “O Museu que queremos” juntos aos pescadores, professores e moradores locais. A crise sanitária e econômica alterou os rumos da obra do museu que se iniciaria no ano de 2020. Até o presente momento não houve ampliação dos espaços do museu - conforme proposta e memorial descritivo -, com projeto arquitetônico, com custos e orçamentos definido pela Secretaria de Obras da gestão passada de Arraial do Cabo (Processo no.1020/18, de fevereiro de 2018). Até o início do ano de 2020 havia o site do museu, e, em abril de 2020, perdeu-se o mesmo por não termos recursos em atualizá-los. As chuvas deste último verão (no ano de 2019) comprometeu a estrutura física do pequeno prédio. E, por estar fechado, desde a pandemia, estabelecida em março de 2020, as paredes, as fotografias e as miniaturas das canoas vem sendo comprometidas e se perdendo devido às intemperes e as ações de pragas. Por fim, desde meados de 2020, organizado por mim e pela professora ecóloga Ana Paula da Silva, do IFRJ, vem ocorrendo a “Live das Quintas” do “Circuito dos mestres sabedores da cultura popular” com a participação dos distintos mestres. A primeira Live contou com a participação da Dona Vena (Centro Espirita Pai José do Congo); Harildo (Paiol dos Pescadores da Praia da Prainha) e Cleuzinha (Cooperativa das Mulheres Sol, Salga e Arte). A segunda Live, também, em junho, foi com o Show (Ateliê Polvo do Mar) e o Ronaldinho Fialho (Ateliê de Cultura e Turismo), a terceira Live foi com o Mestre Chonca e com a etnobotânica Viviane Kruel (JBRJ) e, ainda, a Live do pescador Moacyr (Paiol da Praia do Pontal) com a mediação da bióloga Nicky van Luijk. E, a partir de novembro de 2020 a janeiro de 2021, na X Semana Fluminense do Patrimônio, fiz outras “Live públicas” sobre as oficinas do “Circuito” para interessados das regiões dos Lagos, Maricá e Serrana. A proposta da “Live das Quintas” se constitui como acervo da memória audiovisual das ações exclusivas, tanto do museu quanto do “Circuito” com acesso documental, restrito e exclusivo aos membros participantes, professores e pesquisadores associados. A proposta atual de pesquisa e de trabalho na salvaguarda dos saberes tradicionais busca estabelecer metas para a ampliação arquitetônica com recursos humanos, financeiros e conceituais junto à sociedade civil e aos diversos entes públicos da federação, além da criação, concomitante, do estatuto e do conselho curador, que, no futuro próximo, serão representados por pescadores tradicionais, moradores e pesquisadores e por instituições de ensino, pesquisa e de extensão cultural. Os espaços internos e externos do “Museu/Sala Expositiva Mestre Chonca”, após ampliação, serão adaptados, qualificados e usados para a constituição de “acervo vivo” a partir das metodologias das histórias de vida e oral aonde se procurará trabalhar a transmissão dos saberes-fazeres com a geração do trabalho e renda. Seja através das reformas de canoas de boçarda ou na confecção e nas oficinas de miniaturas de canoas, entre outros artesanatos de madeiras, e, mesmo, na visitação cultural, educativa e turística. Possivelmente, após pandemia, as ações serão realizadas, inclusive, através do TBC – Turismo de base comunitária, entre outras, que se façam necessárias para a busca de autonomia, sustentabilidade e manutenção do “Museu/Sala Expositiva Mestre Chonca” com a produção audiovisual, documental e na transmissão das memórias sociais e coletivas das práticas tradicionais da pesca da cidade. O foco – ao terminar a crise sanitária –, é de reiniciar as agendas interrompidas com estudantes e professores do IFRJ e, provavelmente, com as escolas da Região dos Lagos além das atividades de visitação com guiamentos pedagógicos, culturais e turísticos para o público amplo de moradores, visitantes e turistas.