Informações
Tipo de Entidade
Entidade Cultural
Natureza Jurídica
Entidade de pesca tradicional
Público-alvo das ações promovidas
Estudantes, pesquisadores, moradores, visitantes e turistas.
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Breve descrição do Acervo
Em todos os paióis dos pescadores da Praia do Pontal possuem diversos petrechos da pesca, embarcações (CANOAS DE BOÇARDA) e os próprio espaços de interpretação interno com placas com pequenos textos e imagens sobre a pesca tradicional. Além dos pesqueiros localizados nos morros, dunas e beiras de praia no limite desta praia. Para melhor compreensão vê, em anexo, os relatórios sobre o Circuito dos mestres sabedores de Arraial do Cabo e, em particular, dos da Praia do Pontal.
O Ponto já realizou o Inventário Participativo?
Não
O Ponto possui Acervo?
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O Acervo já foi inventariado?
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O ponto possui acervos digitais?
Sim
Relação com a comunidade de referência
A Praia do Pontal localiza-se na divisa entre Cabo Frio e Arraial do Cabo. Destacam-se na paisagem cultural os remanescentes da Mata Atlântica, em particular as áreas de restingas com dunas, combros e lagunas, além de pequenos paióis coloridos, feitos de alvenaria, com áreas externas para embarque e desembarque de canoas de boçarda. Nesta praia há a predominância da pesca do cerco tradicional, com o direito a vez entre as quatro companhas ao longo do ano. A Praia do Pontal continua sendo uma das áreas de pesca mais isoladas e com baixa densidade populacional da cidade. É a primeira praia da cidade de quem vem da Praia do Foguete, em Cabo Frio. Em uma das faces, em direção a Arraial do Cabo, próximo aos paióis dos pescadores, tem-se o Morro do Miranda, com uma diversidade de ecossistemas associada à Mata Atlântica. Noutro lado, em direção a Cabo Frio, tem-se as áreas de beira de praia, com pequenas elevações e dunas com vegetação de restinga, banhadas pela Lagoa de Beber, Lagoa da Barra Nova e a Lagoa do Pau Fincado. Desde o ano de 1729, encostado ao Morro do Miranda, este lugar era designado como “Canto do Pontal” enquanto uma pequena beira de praia contigua à “Praia do Pontal” que envolvia toda a orla e se findava até a “boca da barra”, em Cabo Frio, no canto do Forte São Mateus. Esse último canto foi declarado, no século XIX, de uso exclusivo dos pescadores do bairro da Passagem, em documentos e atas da Câmara Municipal de Cabo Frio. Tornou-se essa orla grande, em determinados momentos históricos, no século XX, desmembrada em Praia do Pontal (em Arraial do Cabo) e em Praia do Foguete, Algodoal (Dunas), Braga e do Forte (em Cabo Frio). Através das falas, das memórias e dos relatos dos antigos pescadores e dos atuais é possível exemplificar os vínculos intergeracionais e as genealogia familiares e intersubjetivas a partir dos valores, sentidos e significados dos enraizamentos, pertencimentos e afetos aos territórios da pesca e cantos de praia. O acesso à Praia do Pontal se faz a partir de três estradas de terra batida. A principal delas é a Alameda das Casuarinas – rua de terra batida e sombreada por casuarinas –, rente à Vila da Álcalis. Essa vila foi construída, inicialmente, como moradia para os quadros técnicos e os gestores-administrativos da empresa Álcalis. Hoje é um condomínio privado. Paulatinamente, tornou-se também lugar de segunda residência para os adventícios, com baixa taxa de ocupação em comparação com as moradias do centro da cidade ou do Segundo Distrito. As áreas da Praia do Pontal e do bairro Miguel Couto estão sob “tutela” da preservação da paisagem, a partir de instrumento jurídico de proteção ambiental e cultural. Desde sempre existem quatro companhas na Praia do Pontal, além da “moradia” eventual de um dos pescadores, representando, ao todo, os cincos paióis de pescadores desta praia. Até hoje há conflitos entre os donos das companhas, das redes e dos paióis. Entre eles há parentes ou quase aparentados. Alguns pescam na mesma praia, entre outras praias, desde tenra idade. Na Praia do Pontal destacam-se na paisagem os pequenos paióis, coloridos, com área externa à beira-mar para embarque e desembarque das canoas de boçarda. Estes são divididos entre 5 (cinco) proprietários e seus herdeiros. Têm um partido arquitetônico “vernacular”, constituído por um conjunto distinto de paióis enfileirados, com o predomínio de cômodos de alvenaria secionável a priori em sala, depósito, cozinha e banheiro. O paiol é o espaço de abrigo, de trabalho e de sociabilidade dos pescadores. Ao mesmo tempo é o local de depósito e de guarda, com segurança, dos petrechos de pesca. É o lugar de onde se faz e se improvisa o café e se usa o banheiro para os membros da pesca e, eventualmente, com “custos” para moradores e turistas. Mesmo sem eletricidade, a rotina da pesca perdura diariamente no direito da vez de cada companha. Ao longo do tempo se reproduz, de geração a geração, novas sucessões – sempre renovadas e continuadas – de pescadores, redes, canoas e proprietários das companhas. Pelos relatos dos mais antigos pescadores, a área de pesca original abrangia toda a costa do Pontal até as praias de Cabo Frio. Devido ao comportamento dos peixes de passagem, ia-se a remo – alguns pescadores caminhavam pela beira de praia, acompanhando a canoa – até a altura do atual bairro do Braga, em Cabo Frio. Os mais antigos relatam que as companhas vez ou outra pescavam de canoas a remo até a Praia do Peró, em Cabo Frio, local equidistante dos paióis dos pescadores da Praia do Pontal, a cerca de uns 7 (sete) quilômetros de distância. Neste sentido, para os antigos pescadores, a partir da Praia do Foguete, em direção a Cabo Frio, na altura do Clube Militar, tinha-se o marco denominado de Lagoa do Pau Fincado. Mais adiante, na lombada da estrada Arraial do Cabo – Cabo Frio (Rodovia Gen. Bruno Martins), perto da curva e antes do bairro das Dunas, havia a designação do marco da Ponta do Mato. Até chegar a este ponto, passava-se por um longo trecho de areia “fofa” e com declividade em curvas, à beira da praia. E, por fim, tinha-se o marco do Espraiado de Cabo Frio (atual, bairro do Braga), com uma beira de praia maior, lisa e firme. (...) Nos primórdios eram (5) cinco paióis, separados e posicionados em locais diferentes dos atuais. Antes ficavam dispersos no “Canto do Pontal” e na borda do Morro do Miranda. Entretanto, o paiol mais antigo era o da “Canoa do Pontal”, que ficava perto das atuais casuarinas. Os paióis, com os petrechos da pesca da canoa “Amarela” e o de “salga de peixe” de um dos “poderosos da pescaria”, ficavam em frente ao “Canto do Pontal”. O primeiro tinha um cômodo de 4x4 metros, feito de tijolos e com telhas francesas de barro, compridas e grandes, como tábua, com detalhes. Atualmente não existe vestígio desses paióis. Possivelmente, na sua origem, estes paióis eram feito antes de madeira, com telhado de palha de coqueiro. Alguns paióis, nos anos 1950, foram destruídos para dar passagem ao “Canal Extravasor ou de Descarga da Alcalis” da Praia do Pontal. Estes estavam localizados entre as bordas do Morro do Miranda e o “Canto do Pontal”, exceto o paiol de salga de peixe, que ficava fora do alcance dessa obra. As gerações dos pescadores mais antigos – bisavô, avô e pai “do mais antigo pescador” – devem ter utilizado os paióis das canoas antiga do “Pontal” e da “Amarela” de um dos “poderosos da pescaria”. O paiol de salga de peixe continha entre 4 a 5 tanques de tijolos grandes, de 2,5 x 2,5 metros, e servia para salgar o xaréu e o bonito. Os mesmos, após salgados, eram transportados em cestos de jacá no lombo de burros, por tropeiros que faziam as rotas com destino a Cabo Frio, Macaé e Rio Bonito e, mais ao largo, a São Gonçalo e Niterói. Já os cestos eram confeccionados por moradores que viviam no “caminho de Búzios”, no bairro da Rasa. Em determinado momento, famílias afrodescendentes oriundas do atual bairro da Rasa (Armação dos Búzios) mudou-se para o Arraial do Cabo para produzir os cestos de jacá – feitos de cipó e de bambu –, que eram muito requeridos na pesca. Pelo relato “do mais antigo pescador” quase todos os paióis da cidade (inclusive os de salga de peixe) eram cobertos por palhas de coqueiro e tinham, no seu interior, esteiras de tabua. Para os pescadores, a partir dos anos de 1950: a anchova, tainha, entre outros, eram peixes conservados em gelo e transportados, por animais de carga, da Praia do Pontal até o centro de Arraial do Cabo. Eventualmente, dependendo da quantidade e da qualidade, estes peixes eram embarcados em canoas da Praia do Pontal até a Praia da Prainha. Os peixes - antes do advento do gelo - eram salgados, exclusivamente, por mulheres de Arraial do Cabo. Pelos relatos informais, nesta época, havia “dois grandes atravessadores” como os principais comerciantes do produto, por praias, que contratavam as salgadeiras do centro de Arraial do Cabo e em tropas de burros, saíam vendendo os peixes salgados por Cabo Frio e outras cidades. Em cada paiol tinha-se uma segunda rede de reserva, além de âncoras, remos e vários cestos de jacá. Chegava-se muito cedo para pescar pelo antigo caminho da “Mata do Zezinho” (próximo à Álcalis), conforme as épocas do ano. A pesca de cerco de praia tinha o “mesmo sistema” do atual: o de “demandar”. O vigia – uns melhores que outros – “demandavam” a feitura do cerco ora do alto, no vigia do Morro do Miranda, ora em terra, andando, sentando, descansando e observando o movimento da natureza. Sempre vigorou o dia da vez ou trato da vez de uma determinada canoa. Às vezes, cercava-se com duas canoas devido à abundância de cardumes ou mantas de peixes. A segunda canoa cercava por trás da primeira. Pelo relato, desde período, se pescava toda a qualidade e quantidade de peixes, especialmente o xaréu, bonito, tainha, xerelete, anchova e cavala. Cada companha tinha suas redes, confeccionadas manualmente, com barbante. Eram pesadas e tinham duração efêmera (12 meses), medindo cerca de 120 braças a 11 ou 12 braças de profundidade, com trama e nó da malha com “três dedos” da rede. As cordas de baixo (“tralhas”) eram muito pesadas, e não se usava chumbo. As boias eram confeccionadas com raiz de araticum-cortiça (“araticum”), que se retirava da restinga. Caso a rede rasgasse, consertava-se na hora. Isso porque quase todos pescadores das companhas eram hábeis no manuseio de agulha para o remendo, reforma e restauro das redes de pescar. Se tivessem vinte pescadores na Praia do Pontal certamente quinze estavam fazendo rede. Dependendo da época do ano, os pescadores saíam de casa cedo e de “café tomado” pelo antigo caminho de terra até a Praia do Pontal. A memória coletiva mais longínqua relata que, desde meados do século XIX, sucessivas gerações de pescadores detinham pelo costume a posse coletiva do território da pesca da Praia do Pontal, entre outras praias. Parte dessa memória hoje é aludida até a quarta geração – na ascendência materna e/ou paterna –, numa sucessão contínua que impõe valores, significados, sentidos, enraizamentos ou vínculos existenciais às narrativas orais sobre as histórias de vida dos bisavôs, avôs, tios, pais e filhos de pescador, inclusive na mesma família, ao envolver os parentes e os agregados numa relação de compadrio e de patronagem. Isso possibilitava, assim, constituir uma genealogia família interligada à pesca tradicional e à posse dos recursos pesqueiros e dos petrechos da pesca e canoas com suas cores e nomes. Pelos relatos dos pescadores das companhas da Praia do Pontal, estes enumeram aqueles pescadores atuantes – e relembram da maioria dos já falecidos –, com seus respectivos apelidos e/ou nomes de batismo. Em particular, dos antigos donos e/ou de pescadores membros das sucessivas companhas, com seus paióis, canoas, redes e petrechos de pesca, ao longo do século XX até os dias atuais. Para o pescador tradicional da Praia do Pontal, em Arraial do Cabo, seu território da pesca começa na parte imediata ao sopé do Morro do Miranda, onde se tem as marcas e as pedras do ponto do vigia, lugar preferencial para observação das passagens dos cardumes e das mantas de peixes. Continua margeando à beira da praia pelas pequenas elevações das dunas até a Lagoa da Barra Nova. Nos seus quase 1.734 metros lineares, estão demarcadas sucessivas referências à pesca bem como marcos e pontos pesqueiros à beira-mar denominados, em ordem, a partir dos paióis dos pescadores, de Canto do Pontal, Leôncio, Cotovelo, Porto das Canoas, Pitangueira, Cruz da Menina, Lagoa de Beber e Lagoa da Barra Nova, fora os três locais, no combro e na beira da praia, dos bancos do vigia da pesca e dos pesqueiros associados à Ilha do Pontal (Barreto, 2015, p. 55-58 e Barreto et al, 2019, p. 36-43). A antropóloga Rosyan Britto (1999, p. 49) assinala que, no final dos anos noventa, apesar das injunções e das mudanças, ainda se mantinha a pesca tradicional de arrasto de beira de praia, como até hoje vigora com suas regras e costumes atualizados. Em particular, a antropóloga enfatizará as marcas de pescaria disponíveis, naquela época, sobre o território da pesca da Praia do Pontal, a partir das releituras e usos simbólicos fornecidos na época pelo Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM/Marinha do Brasil). Percebe-se a ausência das designações antigas de Canto do Pontal, Pitangueira, da Lagoa de Beber e Lagoa da Barra Nova. Revela, também, que se usava o Saco da Baleia e a Ilha do Pontal com mais recorrência do que atualmente. Hoje já não se pesca tanto nas proximidades da enseada da Ilha do Pontal devido à presença de surfistas, traineiras, motonáuticas e outras embarcações de passeio. Cf. BARRETO, Paulo Sérgio (2021). : “A pesca artesanal de canoas de boçarda em Arraial do Cabo (RJ)” (Tese de Doutorado), pp. 144-149. Instituto de Psicologia/Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade de São Paulo (USP). Https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47134/tde-23062021-183324/pt-br.php
O ponto possui sede própria?
Sim
O espaço da sede é aberto ao público?
Sim
Já foi contemplado em algum edital do IBRAM?
Não
Contemplado em outros editais públicos ou privados?
Sim
Contemplado em quais outros editais?
Projeto: O Circuito dos mestres sabedores da cultura popular da Praia do Pontal, em Arraial do Cabo (RJ). Proposta premiada no Edital de chamada emergencial de premiação Nº 06/2021 - Povos Tradicionais Presentes RJ/Governo do Estado do Rio de Janeiro/Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa.
Os integrantes participaram de ação do IBRAM?
Não
Participaram de capacitação de outra instituição?
Não
O ponto promove atividades regulares?
Não
A entidade promove ações de Capacitação?
Sim
Quais ações de Capacitação?
Oficinas de confecção, reparo e reformas de redes artesanais de arrasto de praia feita por canoas de boçarda; Oficinas sobre os gestos da pesca, territórios pesqueiros e saberes tradicionais Oficinas de "contação de causo" sobre a pesca tradicional
O ponto promove eventos abertos ao público?
Sim
Quais eventos?
Antes da pandemia recebia estudantes, professores, moradores, visitantes e turistas para as atividades em TBC - Turismo de Base Comunitária.
O ponto faz parte de alguma Rede?
Sim
Qual Rede?
Rede física do Circuito dos mestres sabedores da cultura popular. Para se ter uma melhor compreensão do Circuito dos mestres sabedores da cultura popular têm-se, entre outras, a entrevista do dia 4 de outubro de 2019 realizada pela área de comunicação da Semana Fluminense do Patrimônio. Disponível em: http://www.patrimoniofluminense.rj.gov.br/?p=9563. Bem como, a palestra no programa “Vozes, Ecos e Memórias: A Educação Patrimonial na Escola - Os patrimônios (In) Visíveis” da Educação Patrimonial da Secretaria Municipal de Educação de Cabo Frio, no dia 14 de outubro de 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sqyEXaymsZ4.
O ponto possui parcerias com poder público?
Não
O ponto possui parcerias com instituições privadas?
Não
O Ponto tem participação ativa em conselhos?
Não
Localização
Estado
Endereço da Sede
Paióis dos Pescadores da Praia do Pontal, S/n - Arraial do Cabo - RJ