O Ibram recentemente lançou no site da Brasiliana Museus um experimento que chamou a atenção de novas audiências, as quais habitam espaços inovadores do ambiente digital. Trata-se do “Fediverso“, o universo das redes sociais federadas. Um post no blog da Brasiliana anunciando que os “Museus brasileiros se juntavam ao Fediverso” acabou trazendo um público relevante* ao site do novo serviço do Ibram, e tal resultado (supreendente) nos levou a expandir o experimento aqui para o o blog da Plataforma MuseusBR.
Na perspectiva da política pública, o estabelecimento de um ambiente social de difusão de informações na web, que seja independente de plataformas centralizadas (corporações internacionais), é crucial para o funcionamento sustentável das redes de informações e conhecimento de interesse público. Promover esta ideia com um projeto de “rede social para abrigar museus / instituições de memória de interesse público, onde os dados da interação com sua audiência fique também preservado, como acervo digital, e para pesquisa” (vide post), nos parece pertinente e oportuno.
A nova versão da Plataforma MuseusBR nasce como ponto de conexão entre as demais instâncias de serviços digitais do Ibram, como o Inventário Nacional de Bens Culturais Musealizados, a Brasiliana, o sistema para Eventos e o Cadastro de Bens Musealizados Desaparecidos, reduzindo assim o risco de desatualização informacional ao garantir compartilhamento automático de dados nos demais serviços e sistemas. O novo modelo demonstra que organizar, sistematizar e enredar a informação digital constitui um grau avançado de atuação museológica no século 21. A nova plataforma de museus ilustra este exercício de práticas inovadoras, que constituem uma nova museologia brasileira, latino americana, que enxerga a internet como espaço de atuação cultural de especialistas da ciência da informação.
Neste contexto, para nós no Ibram, é importante que a tecnologia que faz funcionar este novo ambiente de redes descentralizadas seja um protocolo público — o ActivityPub — promovido pelo W3C, que é a organização internacional dedicada a garantir o crescimento e a interoperabilidade a longo prazo da Web. É impensável, para a política pública, o cenário em que a preservação de ativos digitais de patrimônio cultural (imagens, audiovisual e metadados), assim como das séries históricas de informações e indicadores culturais de interesse público, estejam vulneráveis a decisões unilaterais de grandes empresas estrangeiras.
Com a existência do protocolo público e a possibilidade da gestão das bases de dados pelas próprias instituições, podemos começar a lidar com a memória digital de maneira institucional. Este desenvolvimento abre considerável campo de atuação para os profissionais da ciência da informação, museólogos, arquivistas e bibliotecários, e potencializa a inovação nas interfaces digitais das instituições de memória. No universo das redes sociais descentralizadas, a proposta é “gerir de maneira autônoma suas próprias conexões de rede social” (fonte da citação), e o Ibram pretende instrumentalizar os museus brasileiros a também experimentarem esta possibilidade.
O movimento é pertinente, pois vivemos um cenário onde instituições de memória brasileiras tornam-se reféns de empresas de tecnologia estrangeiras, levando a situações esdrúxulas em que o extravio de uma senha determina a perda de controle da instituição sobre o seu acervo digital. Esta total falta de atenção e de suporte, em contexto de conteúdo tão valioso, é o que se pode esperar dos serviços gratuitos dos quais até hoje se valeram nossas instituições de memória para “preservar” seus ativos digitais. Neste momento em que empresas de tecnologia ajustam seus modelos de negócio em acordo com o cenário econômico global, o que garante que o YouTube, do Google, seguirá mantendo online e com acesso gratuito, o imenso catálogo de vídeos que preserva a memória digital do Brasil nos últimos anos?
Cabe a nós no Ibram estarmos atentos a esta realidade, e explorar cenários alternativos. Portanto, nesta primeira etapa de experimentação do Fediverso em MuseusBR, o que se propõe é a ativação do plugin ActivityPub disponível para a aplicação WordPress que o Ibram utiliza para a publicação deste website, e também para os acervos digitais organizados na aplicação Tainacan da Plataforma. Assim, este post circulará no Fediverso como um post de “microblog” — um “micropost”, com link direto para este post no site. Se esta comunicação lograr a atenção de interessados em museus e em memória digital e receber engajamento, sendo repostada no Fediverso, poderá trazer a visibilidade destes novos públicos para os serviços MuseusBR.
Em uma segunda etapa, a ideia é estabelecer uma instância do Ibram no Fediverso, e convidar os museus brasileiros a experimentarem a operação de gerir a relação com seus públicos online. O plano envolve o desenvolvimento de uma política que institucionalize o provimento de espaço para hospedagem dos conteúdos do patrimônio cultural, garantindo sua preservação digital. No Fediverso, existem aplicações variadas, que simulam a experiência das redes sociais às quais estamos acostumados, como o Twitter (Mastodon), o Instagram (Pixelfed), e o YouTube (PeerTube) — como na ilustração da árvore acima. Será ótimo debater com o campo museal as possibilidades de exploração do Fediverso, e das políticas de memória digital a partir da perspectiva do interesse público.
Veja também, no blog da Brasiliana Museus:
“Fediverso: um experimento com redes sociais descentralizadas, e museus“
Comentários são bem-vindos abaixo!
Vamos ampliar e expandir esse movimento fediversista no Brasil.
Acredito que um dos grandes desafios para sua implementação está no campo da usabilidade, uma vez que a dinâmica descentralizada e as limitações técnicas levam à experiências “quebradas” ou não-tão-fluidas como as ferramentas centralizadas proprietárias ou mesmo livres, que conhecemos – e usamos, no nosso dia-a-dia.
Por exemplo, esse meu comentário poderia/deveria virar uma postagem no meu mastodon? como isso poderia acontecer?
Bora pra cima!
Feliz de mais de voltar a ler um dos blogueiros que mais influenciou meus conhecimentos e ações em rede nos últimos vinte anos. Vida longa à ecologia digital!